EM MEIO À... AULA
Relação porosa entre professorxs - alunxs é duma complexidade tal que, a maioria dxs discentes ignora quem é e de onde está falando. Tanto pior quando não ignoram e usam a sutileza da negação para exercer um poder sórdido: racista! Diz que não, afirma que não, mas exerce. Ás vezes, parece que somente a performance narrativa, o conhecimento como apreendemos no cotidiano possibilita conhecimentos alternativos. A academia como espaço híbrido - o meio ao lugar onde não se é bem vinda - é o único que nos abre as portas. Pior quando você faz abrir e elxs têm que abrir, pois elxs não aceitam. Some à aridez do campo selvagem feminista, a cor da pele à cor da consciência, idade e todas as expectativas advindas desses dados. Some também a subjetividade e veja no que dá.
"O que é legitimado como conhecimento e que conhecimento é esse?"
(Grada Kilomba)
I
Meu corpo responde aos silêncios infundidos no que foi o patamar do desejo. E os desejos, sempre multifacetados e autorreferenciais semeiam a si mesma como uma esponja o faz.A semente, por vezes, passa por filtros que drenam prazeres, minam à medida que negam, ignoram e negam que negam - óbvio.Status quo é como uma teia tão invisível como de aranhas. O poder do "não" privilegia-se de ter invisibilidade, de não ser marcado e, portanto, cobrado, rastreado. O que não tem nome, o que não tem corpo, o que não é factual, o que não se limita ao conhecimento... bem, isso não existe. É frustrante quando você não pode se expressar, mas nada lhe impede de fazê-lo. Não com palavras, e não exatamente. Não fosse o Feminismo Negro, não fosse Audre Lorde, certeza que eu já estaria louca, pois só eu vejo o que eu vejo: o que cuidadosamente negam. Ah, mas pode ser uma questão de percepção (?) e você poderia não por em questão (?) não dizer (?) e manter a normalidade. Mas dane-se a norma, normalidade e formalismos estéreis [ nesse momento, o rosto exibe sua transparência afetiva]. Noto que os olhos não repuxam mais como no início.
II
Olívia Pope tem a frase que parece ser o ponto de partida de qualquer coisa sobre o indivíduo: O que você quer? É "fácil" quando trata-se de um adquirir bens, mas e quando trata-se de identidade, pathos, desconformidade? Jogar seu jogo sem regras me aborrece. Conceituação sem premissas plausíveis me irritam. E, na real, tanto faz (?) isso em si mesmo. Importa tocar a crise, examiná-la para ter hipóteses, premissas...
III
Na falta duma imagem/conceito apropriado para descrever a devastação, o vazio onde nada se fixa, nada se constrói, não há devir, apenas complexidades vazias, insolúveis, desencontros sutis de olhares e subjetividades. Porque o espaço minimalista versus o tempo obrigatório já arrancam lascas de carne da densidade dos cortes de papel. Os limites tentam simultaneamente nos incapacitar, arrancar membros, extorquir a liberdade, pois a fecundidade é o novo pedaço de autonomia sempre inegociável.
IV
A força de que padecemos (não temos outro padrão de relacionamento), assim como a abstenção da busca por soluções engolfam a totalidade. O contínuo identitário, quando rompido, causa o abismo abissal e unívoco?!
V
Narcísico que seja o pulso de informações não é contínuo. O "bom" nega com o silêncio e, assim, semeia outras negações. Com o detalhe: a multiplicação de negativos não pode ser positiva aqui (como seria na matemática), pois ela arrasta para além dos terrenos da proscrição. A inteligência e a subjetividade estão a serviço de quem, se estou em meio à...? O status quo força a dialética porque sua erupção vem do choque, de certo pavor, mais limpo, sem corpo, carne e vísceras. Sem fluidez, sem prazer (o erótico de Audre Lorde). Só almas, elevações, frieza e grandes distância. Mudança de cena e mudança de identidade. Lamúrias do ser privilegiado engolfa e afogam junto com outros aspectos que inflacionam. Nós da diáspora não vivemos na terra, sequer temos acesso à ela. Nossa casa ainda é um barco em que negociamos o timão e o leme a todo tempo.
VI
Sarcasmo, cinismo, vaidade, presunção e força despertam nesse mar ante à dialética promovida pelo status quo. E tudo é peculiaridade, banalidade, e não existe e não é legítimo. Enigma desconcerta o ponto de vista da justificativa acadêmica: filho da culpa cristã, e por quê? Porque racismo é feio.
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