ALICE CAYMMI, "RAINHA DOS RAIOS" E A SUBVERSÃO DAS TECNOLOGIAS DE GÊNERO
Alice Caymmi |
Preâmbulo
Definição de "tecnologia de gênero": em texto clássico, a teórica feminista Teresa de Laurentis descreveu o papel da mídia na construção/forja duma donzela de ferro (o "ser mulher") que repete crenças sobre o que é ser homem/mulher, sobre só existir duas opções e, assim, convence expectadoras a perpetuarem diferenças.
Tenho duas coisas em mente:
1) raça e gênero são apenas elementos situacionais no modo como são apresentados na mídia. São panos de fundo das canções, filmes, séries, quadrinhos, mas apenas com o intuito de apresentar a cor local, não como tópico de discussão (racismo/sexismo)[1].
2) O apagamento em si, um modo de representar, é como um sistema aberto, pronto para ser invadido e subvertido desde o seu interior, como nos alertou Donna Haraway[2] e Homi Bhabha[3] cada qual à sua maneira.
Contexto
O
segundo álbum de Alice Caymmi, Rainha
dos Raios, foi lançado pela Deckdisc em 2014. O título faz referencia a um
verso da fabulosa canção de Gilberto Gil Iansã [4],
localizada na oitava faixa. Ao longo deste álbum[5]
temos uma viagem musical [6]
histórica que mixa a miríade de influências musicais (óbvias, no sentido bom, de quem
vem duma tradição musical familiar) trazendo um tom de criatividade à
MPB sem a pretensão de ser musa, mas de renovar, assimilando o pop de outros tempos, o funk melody. Ela não gravou um álbum homogêneo o que reflete sua performance no palco que mescla as influencias culturais diversas numa completa "ciborguização". A fusão funciona de maneira orgânica sem necessitar de justificativas e, assim, mostra uma verdade dos nossos tempos.
Experimentei o álbum por inteiro
presenciando a dinâmica entre passado e presente, entre o amor romântico
oitocentista e a sua contraparte rebelde sem causa, constastes esses que
evisceraram em estética própria reflexões identitárias que estão no ar.
Dificilmente
os Doces Bárbaros (Gil, Caetano,
Bethânia e Gal) seriam diferentes do que Alice se mostra hoje, fossem nossos
contemporâneos de gênese. De fato, a grande
questão de Alice ser herdeira musical Caymmi pode ser uma inesquecível
sequencia de rastros. Este fato me parece um elemento de graciosidade que
reitera o talento, não elemento de condescendência ou desmerecimento como é de
hábito a "grande crítica" afirmar.
Podemos
dizer que Rainha dos Raios é um underground
MPBístico, espécie de trilha sonora da juventude Android/Iphone que se
doutora muito cedo; que ouve Chico e lê Walter Benjamim, que se apropria do
brega vomitando kitch, mas que não pode ignorar o realmente popular, uma vez autorizado por Gal e Caetano que caíram no funk, juntaram tudo (o Charles Anjo 45 e o RJ de agora) e mostraram
que é possível ser sem se juntar.
Continua pedra indissolúvel, o que parece uma atitude muito sincera sobre a
realidade social de que "elxs são elxs e jamais serão outrxs". É bem
verdade que a história da MPB é bem pavimentada, coerente e, exatamente por
isso, confere condescendência ao Cetano Funk
e ao Caetano Conservador. Essas
duas facetas mesmo, de produtor de Recanto [7]
(2011) da Gal Costa, (com funk, MPB e
tudo, mas não em tom antropofágico) e
do artista da faixa Homem ,
normalmente são vistas destacadas da história coesa do que se considera gosto
refinado. Esta injunção muito me interessa aqui na
Apreciação
De
dentro do corpo da MPB, Alice deslocou canções de seus contextos originais,
junto ao produtor Diogo Strausz, e mixou nos arranjos os tempos; trouxe o hoje para o ontem (Meu mundo caiu/Maisa) e o ontem para hoje (Princesa/Mc Marcinho) numa dobradinha curiosa. Muitos exemplos dessas corrupções dos tempos
poderiam ser dados, mas interessa aqui, focar o modo como duas músicas fazem
emergir questões de gênero - seja musical, seja de diferenças biológicas
engendradas, isto é, a naturalização de compreender sexo biológico como gênero.
Para tal, usarei como objeto de análise a faixa 4 Princesa (MC Marcinho) e a faixa 2 Homem (Caetano Veloso).
*Princesa*. Faixa 4. Autor: MC Marcinho.
À
medida que os parâmetros de bom gosto
musical da classe média passaram a absorver o funk carioca da década de 90, e que ele foi definido como "melódico" (porque anexado ao cancioneiro das
"cantigas de amor"), houve um deslocamento do local de produção
(favelas) e, por extensão, da raça e da classe social envolvidas. Certamente, pretxs da
classe trabalhadora continuam produzindo, mas o digamos que houve um deslocamento do holofote. Por um lado, há quem despe a apropriação do caráter
político, dizendo no ato de cantar que "a LETRA presta sim", aí
temos uma tinta branca (embranquecimento) nas versões de Adriana Calcanhotto para
(em nossos termos, o madrigal) Sem você, do Kid Abelha para Quero te encontrar e a versão de Maria
Rita para a realista A minha alma (a paz
que não tenho) d' O Rappa.
Por
outro lado, temos a postura de Alice, que se apropria da canção consagrada, sem
apagar a origem, e sem querer domesticá-la aos seus termos. Sua versão,
ciente do seu lugar e condições, mescla o ritmo falado do canto de Marcinho à
melodia convencional, dando lugar ao "de fato popular" e
mostrando o lugar canônico na MPB da jovem Caymmi. Dessa disjunção (juntar o
discurso de Marcinho ao seu não gera um terceiro homogêneo) emerge a crítica
ao apagamento de um músico devido antes ao seu ostracismo racial, espacial e de
classe que à falta de acesso à tecnologia para inscrever-se[8]. Aqui está em pauta o que disse Kilomba: em geral, a questão racial está posta, mas
não para o dinamismo da discussão
política.
O
Funk Melódico que tem Marcinho como
um dos expoentes, em geral, era escrito no masculino-cis heterossexual para uma
mulher idealizada, distante no presente, mas que foi alcançada no passado.
Enquanto o eu-lírico do homem se coloca como vulnerável em consequência da
ausência desse amor, ele silencia a razão da ausência e ainda se coloca como
não apenas a melhor, mas a única opção de felicidade e contentamento para ela: Então eu acho que não tem ninguém que te ame
assim/princesa, por favor, volta pra mim. Algo como Deus tem na ovelha a sua glória [9]
ou como Não vim pedir nada pra mim,
eu vim pelo que sei, e pelo que sei, você gosta de mim[10].
A intenção evidente na letra de Marcinho é mais de convencer a cousa amada [11]
a regressar e a esquecer o que houve, para
o bem dela, do que propor uma reflexão sobre o que houve e sobre o que o objeto do seu amor deseja.
Coloca-la no
patamar de Princesa, naquele contexto
de privações materiais, é uma elevação retórica que legitima sua condição de
feminilidade, vulnerabilidade e necessidade
do resgate empreendido por ele. O eu-lírico usa o imperativo (Volta) porque sente-se muito necessário, apesar
de evidenciar que a necessidade é dele (desde
quando você se foi, que dói demais e eu
te amo, meu amor).
Pra
além de podermos traçar uma linha histórica de influencias dessa (tradicional)
ideia de amor, interessa-me aqui, considerar em que medida a versão de Alice
questiona os pressupostos básicos, tão naturalizados, da canção em seu contexto
original (não tão distante do nosso).
O
diálogo entre as duas versões, na voz de Alice, faz emergir os mecanismos da
retórica que incide sobre corpos interpretados/julgados como fêmea/mulher. Sob a voz "feminina", uma nova narrativa é criada e ela desvela a heterossexualidade presumida como única possibilidade de interpretação dos sujeitos. Neste caso, o drama amoroso se
estabelece a partir duma atuação entre a voz lírica feminina e uma princesa. Esse deslocamento em si já
posiciona dois tipos de ser mulher (A
mulher feita para o homem de Marcinho e a deslocada). O sujeito, apesar de não
consciente de sua condição, propõe a heterotopia [12]
do terreno da arbitrariedade do gênero relacionada ao sexo. Com
a possibilidade do discurso amoroso de anulação do eu para completar o Um
partir, não apenas do lugar de masculinidade, a construção do amor romântico é
golpeada em seu cerne: o convencimento da sobreposição, o assujeitamento de um
pelo bem de ambos. Conceder nobreza àquela que só apreendemos em sua ausência é a manutenção de uma ideia medieval[13]
de fragilidade, feminilidade, passividade e vulnerabilidade que dificilmente possibilita
identificar o amor como forja (matriz
gendramento) das formas de ser (homem, se não, mulher).
Longe de compreender
essa atuação artística como uma prescrição - e de fato o não é - vejo na abordagem persistente (mesmo que a voz enunciativa seja mudada)
uma denúncia do problema das diferenças e hierarquias gênero, autorizadas pelo
o modo de conceber o silêncio como contraparte do amor, de relacionamento, de
sexualidade como naturais e grandiosamente humanas, afinal "o amor é um potente" (e
inquestionável) fogo que arte sem se ver[14].
Só
para citar uma possibilidade de resposta[15]
que autoriza a hierarquia dos gêneros a partir da intensidade do amor, na voz
de Maria Bethânia, temos:
Ah! Esse cara
tem me consumido
A mim e a tudo que eu quis
Com seus olhinhos infantis
Como os olhos de um bandido
Ele está na minha vida porque quer
Eu estou pra o que der e vier
Ele chega ao anoitecer
Quando vem a madrugada, ele some
Ele é quem quer
Ele é o homem
Eu sou apenas uma mulher
(Esse Cara - Caetano Veloso)
A
partir dessa simbólica inferiorização da mulher
posta como exemplo de verdadeira mulher,
temos a farsante ideia de que o assujeitamento é a única maneira de identidade
e de prática. Se confrontarmos as versões de Princesa e de Esse Cara,
perceberemos que a primeira faz surgir da contradição voz/discurso, questões
sobre "Não é bem assim", já a letra Esse cara, não deixa espaço para a subversão na voz feminina, o que
apenas reforça essa experiência como um conhecimento que é parte do imaginário,
das prescrições sobre mulheridade.
*Homem*. Faixa 2. Autor: Caetano Veloso.
A
questão que pode ser firmar a partir da versão de Alice Caymmi é precedida pelo
Caetano Veloso como paradigma musical e de discussões de gênero. Não são poucas
as referências explícitas e implícitas em músicas, dou aqui dois exemplos
explícitos:
1)Santa Rita de Sampa| Rita Lee| 1997 - Homem Vinho. Citação: O que é que a baiana
tem?
Relacionando
a famosa canção de Carmen Miranda, entre "o que se tem" ou não, de
comparações, ela usa como referente o cantor Caetano Veloso e revela que ele "tem
ficha na polícia, tem", e "é um gênio", além de ser seu
"eterno Dorian Gray". Essa metonímia evoca o autor Oscar Wild e a
questão da homossexualidade do autor como causa de sua privação de liberdade.
2)Marítimo| Adriana Calcanhotto|1998 - Vamos comer Caetano.
O
ritmo da música remete à melodia de A luz
de Tieta e propõe a democratização da carnavalização de Caetano através da
antropofagia. A junção de referências propõe comer o "homem da Paulinha"
ambiguamente "pela frente e pelo verso", isto é, pela produção artística
e pelo que representa como indivíduo que se revelou bissexual em "tempos
de chumbo". A proposta de canibalizar Caetano, por si só, já evidencia a
posição do artista no sistema musical brasileiro.
Ciente
e refletindo isto - Alice Caymmi, 26 anos - temos a escolha da
cantora pela canção do "álbum mais masculinista e cheio de
testosterona" daquele que questionou o fato de que "todo mundo quer
saber com quem você se deita[16]".
A música em sua versão original, não passa de um conjunto de normas já
constituídas tanto a priori, quanto ad
nauseum na sociedade: "Todo dia é o mesmo dia, a vida é tão tacanha,
nada novo sob o sol"[17].
Uma
voz masculina dizendo que "não tem inveja da maternidade, nem da
lactação" e uma série de essencialismos biologizantes que descrevem o que
mulheres são/sentem, sem muita consciência de si, revela as várias facetas da
misoginia dispersa no mundo. À medida que descreve o que não tem inveja,
reafirma que é homem a partir dos atributos biológicos "pelo grosso no
nariz" e "pele solta sobre o músculo", reafirma que a
superioridade masculina se dá apenas até o ponto em que irrompe outro traço
biológico: as mulheres são dotadas de orgasmos múltiplos. Embora essa forma de
masculinidade biológica seja um conceito ultrapassado, esse
modo masculinista transita na contemporaneidade como verdade consensual,
portanto, a escolha arriscada de Alice é válida.
Arriscada
porque aquela pessoa que enuncia e opta pela ironia para modular o discurso,
embora tenha a intenção de mostrar o ridículo,
é dependente do receptor que, para efetivar o contra-discurso, deve compreender
o não explícito. Essa escolha por Homem
carrega em si o risco num primeiro momento, mas, novamente, o deslocamento da
voz masculina como enunciadora trava um diálogo entre o passado e o presente,
entre o masculino e o feminino como instancias artificiais que ocultam a
pluralidade e a construção social do gênero.
Na
primeira camada de análise temos o deslocamento temporal, a revisitação que
abre as entranhas dos significados e destaca nela os pontos da história da MPB
figuradas pelo autor Caetano e a mímese da voz/discurso de homem cis. A
firmação da voz do que é naturalizado na própria letra como o contrário (sujeito
mulher: preso às emoções do corpo, ao ciúme e à intuição) corrompe a ficção no
seu interior e já arranca a artificialidade primeira da narrativa: homem não é
aquilo que Alice re-afirma ou re-canta, o
que também não significa que "eu sou homem" seja uma afirmação do que
sua performance propõe. Essa anomalia que desconecta a ideia naturalizada do
binômio homem/bigode - a presença "mulher", ausente na versão do autor - transforma o clássico linear em espaço
heterogêneo, em que o tom da paródia é central. A voz de Alice julga a
concepção binarista naturalizada e, através da inversão, estabelece que ela (seu
eu poetante) é uma face da moeda dum eu-poetante Caetano que (também) parodia
(a medida que persegue) o ideal de masculinidade.
Esses
dois sistemas de representação (fenômenos sócio-culturais), ao encontrarem-se
no presente para diálogo, se chocam e irrompem significâncias latentes. A
superfície da versão de Caymmi retoma o imaginário sobre o que é ser mulher e o
que é ser homem através da letra e tensiona através da melodia eletrônica
excedente e que, na última vez que diz "eu sou ho-mem" faz uma dobra
e metalizada da voz quebrando "ho-mem". A quebra é composta pelo jogo
de passionalização e deitização, isto é, elevação/expectativa e
queda/frustração[18].
A passionalização ocorre quando Alice repete que ser homem é pele solta sobre o músculo, mas a queda
ironicamente anula a expectativa.
Conclusão
Em muitos aspectos, a identidade é apenas a repetição de gestos e pensamentos que mal sabemos o quão antigos são - até porque parecem criados no "aqui-agora" das nossas mentes. Fato que somos seres que imitam, tributários de uma historicidade, que precisa ser desnaturalizada no cotidiano da ação e do pensamento. Rainha dos raios contribuiu de forma potente para a minha reflexão sobre gênero, literatura e história. Esse texto foi a convergência dos textos acadêmicos com o exercício de planejar aulas e conversar, daí o convite à leitura de nós, do mundo e o apelo à desnaturalização das coisas ("porque desconstruir por desconstruir é irrelevante, tem que desconstruir e pensar nas alternativas" - COUTO, Diva.).
Especial
thanx
*Queridxs Alunxs de primeiro ano (2014) que, ao se rebelarem sobre a "má
música" (o repertório delxs!) ser obra do vestibular, me instigaram a
desnaturalizar meu próprio gostar/saber musical.
*Gabriella Lima, que propôs a experiência de ouvir Alice Caymmi e
mudar minha concepção sobre "a nova MPB".
*Tito Abayomi que inseriu "Princesa" na playlist de natal e honrou nossas semelhanças.
*Profa. Diva, Profa. Susane e Bel pelas discussões Pós-modernas que se costuraram a tudo que vi, li, ouvi.
REFERENCIAS
BHABHA,
Homi K. “O local da cultura”.
KILOMBA,
Grada. < https://www.youtube.com/watch?v=DdpUFybJddc>.
LAURENTIS,
Teresa de. A tecnologia de gênero.
NAVARRO-SWAIN,
Tania. As teorias da carne: corpos
sexuados, identidades nômades. Librys: Revista de Estudos feministas, web. V
1-1, n. jan/dez 2002.
NERI,
Louise. Admirável mundo novo: Os
territórios Barrocos de Adriana Varejão. In
NERI, Louise; HERKNHOFF, Paulo. (Org.). Adriana Varejão [Trad. Ricardo
Quintana; Veronica Cordeiro]. São Paulo: o autor. 2001.
TATIT, Luíz. Musicando a semiótica: ensaios. São Paulo: Annablume, 2008, 2. ed.
[1] Tomo
essas reflexões do vídeo de Grada Kilomba "Lidando com o racismo na
Europa" expandindo para o entrelaçamento da heterossexualidade compulsória
/sistema sexo-gênero com o racismo.
[2] A
discussão sobre hacker ou o infiltrado (BENSUSAN).
[3] A
concepção de híbrido empreendida por
Homi Bhabha tem bases operativas: discute o local de enunciação e da negociação
como intricamento de grande importância política. A teoria é um espaço de
contato entre concepções de mundo que devem ser
[4]
A versão de Alice confere um tom setecentista ao focar no riff do baixo e faz soar como um Led Zeppelin.
[5] Em tempos de single, trato
do álbum como obra fechada ainda que não exatamente conceitual. É um poder raro
hoje em dia quando se conversa sobre músicas. A cantora disponibilizou o álbum
em várias redes sociais de forma gratuita e enfatizando a autoria das letras e
dos arranjos. Esse ato é o modo crítico como ela se posiciona quanto à
estrutura decadente da indústria fonográfica, que insiste em ser
antidemocrática. Nesse sentido, Alice também se coloca como uma cantora central
como voz e compositora, não como gênio musical, mas como parte sinérgica duma
equipe criativa potente.
[6] Em Rainha dos raios, Alice - que muito
jovem como o era Marisa Monte ao gravar Barulhinho
Bom - faz uma viagem através de suas referencias musicais e se arrisca a
interpretá-la, a remoê-la, à degluti-la,
à desmontá-la, a re-historicizar seus sentidos dispersos. Diferente de Marisa,
ela não evoca a presença física junto às canções, mas evoca a presença das
letras como corpo flexível.
[7] Esse
álbum tem o ponto positivo de discutir questões políticas atuais desde a
complexa experiência de Brasil pré e pós-militar, neodemocrático, classe C. Por
outro lado, a tentativa de interseção dificilmente escapa de generalizações ambíguas (que beiram
o "a-político") tais como a faixa "Neguinho". Nela, depois
de um panorama do Brasil atual explica: "Neguinho que eu falo é nóis". Questões raciais e de
gênero, ao longo da trajetória de Gal, têm sido deslizantes, escorregadias e
secundárias.
[8] Naquela
época, a questão do alcance era deveras diferente da nossa. Hoje o acesso à
internet torna as condições de produção e de distribuição do produto cultural
menos dependentes das grandes gravadoras.
[9]
Gregório de Matos Guerra. Também temos em Mel
o seguintes versos: "Ô
abelha rainha, faz de mim o instrumento de teu prazer, sim, e de tua
glória".
[10]
Zizi Possi. Nada pra mim.
[11]
Camões.
[12]
Um outro lugar, diferente do que é posto.
[13]
Nesse caso, refiro-me as Cantigas de Amor em que homens louvavam suas mulheres
ausentes toda a sua complexidade formal. Diferente das Cantigas de Amigo,
singelas, feitas de vozes líricas femininas para seus amados. Temos nesse par a
essencialização do ser traduzidas
para formas literárias.
[14]
Camões. Soneto V: Amor é o fogo que arde
sem se ver...
[15]
Lembro também de "Mulher nova, bonita e carinhosa (faz o homem gemer sem
sentir dor)" de Zé Ramalho em que a apropriação da literatura grega serve
de pressuposto para a sujeição da mulher, que aparece ou como prêmio e pretexto
para guerras (Antiguidade) porque é
objeto de prazer do homem. Sem
dúvidas há outras na antologia deste cantor e compositor e no cancioneiro
contemporâneo.
[16]
VELOSO, Caetano; COSTA, Gal. A Luz de
Tieta.
[17]
Idem, ibidem.
[18]
QUIANGALA, Anne Caroline. O Grotesco
Feminino como estratégia feminista no punk
rock (PIBIC - UnB- 2012-2013)
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