12 VOZES INTERSECCIONAIS para ouvir e se amar
Skye Edwards, vocalista da banda britânica Morcheeba
"Como eu aprendi a me amar" foi uma questão levantada no vídeo da Nataly Neri semana passada. Para a ativista, "se amar é um aprendizado". E ela tem toda a razão. Numa sociedade racista, sexista, LGBTfóbica e gordofóbica nos somos forçadas a nos odiar e a enxergarmos o mundo com outros olhos, os olhos que nos enxergam da pior maneira. Com o passar do tempo, uma voz se instala em nossa cabeça e diz coisas horríveis duma crueldade absurda. E durante algum tempo acreditamos cegamente nesta voz.
Às vezes, essa fase dura muito, mesmo quando nos tornamos feministas. Esse horror se estende até que percebemos que a autoestima é construída lado a lado com a consciência de quem somos. Pode parecer um jargão, mas pessoas cujas identidades, aparência e corpo fogem dum padrão idealizado desafiam as estruturas de poder ao existir. O fato de existir e resistir é um ato político em si. Mas como resistir às investidas desumanizadoras?Como aprender a se amar mais?
"O amor cura" já dizia bell hooks no famoso ensaio Vivendo de amor, então ele é uma das grandes tarefas que pessoas negras têm numa sociedade hostil. Não o amor ultrarromântico porque esse nunca nos salvou. Precisamos abandonar aquela voz cruel e direcionar os nossos sentidos ao pensamento feminista negro como forma de nos enxergar e viver. E ele não está apenas nos livros, segundo a socióloga Patricia Hill Collins, o pensamento feminista negro é difundido de diversas formas inclusive através da música. E nada mais eficaz contra aquela voz, que uma voz mais potente, não é mesmo? Confira a lista de 12 vozes interseccionais que nos ensinam sobre o amor, auto-amor e autoestima. São 49 minutos que vão te deixar imbatível!
Você não vai (Karol Conka)
O alcance e visibilidade da rapper brasileira Karol Conka mostra para jovens negras e negros que tudo é possível. Seu primeiro disco, Batuk Freak, é intenso e quase todas as músicas fazem sentir a voz de Karol como presença que fortalece. Em suas letras, o enfrentamento às violências é um dos temas recorrentes, mas numa perspectiva empoderada, segura e ciente de suas qualidades. A primeira pessoa se impõe pela ironia duma rima sagaz e pela consciência de seu próprio valor.
Em Você Não Vai ela se direciona a alguém que subestima e mostra o quanto oportunidades desiguais não são determinantes, noutras palavras: quem "ri por último ri melhor".
"Weirdo" (Sammus)
A voz suave da cantora Teresa Cristina encarna em Meu mundo é hoje uma lição interessante, que vem após a nossa reflexão sobre quem somos. "|Eu sou assim, quem quiser gostar de mim eu sou assim" é parte alta do refrão. Esses versos não enfatizam a arrogância de nascer e morrer do mesmo jeito, mas a transparência de agir conforte os valores nos quais acredita. É importante mudar motivada pelo desejo interior, não apenas porque as pessoas tentam nos moldar. Se não gostar? Se quiser gostar de mim, eu sou assim..
"To be young, gifted and black" (Nina Simone)
Pra mim, uma das canções mais marcantes de Nina Simone é Young, Gifted and Black (Jovem, talentosa e Negra, em português). A cantora fala do brilhantismo que se expressa na subjetividade de jovens negras e negros enfatizando o quanto é motivo de orgulho. Além disso, se dirige aos jovens "com coração aberto" para que reconheçam o quanto somos muitas garotas e garotos negros, especiais, capazes de alcançarmos os nossos sonhos! (mas é preciso tê-los!)
"Boot" (Tamar-Kali)
Tamar-Kali é uma das minhas teóricas favoritas, e não porque ela escreve música com intenção política. É porque suas letras refletem sua experiência de negra e queer como raramente vemos (e ouvimos). Numa entrevista ela afirmou que o simples fato de ser Negra e narrar sua história é um ato político em si, que contraria as estruturas de poder. Sua canção Boot (em português, bota) descreve uma garota que tem cabelos curtos, de pernas marrons,l ábios são cheios, olhos não são azuis, bunda grande e que tem o gosto de fruta doce, cujo suco são lágrimas amargas. Assim como sua música mais famosa (Pearl), em Boot a cantora descreve a experiência de ser uma garota negra preciosa, que apesar de toda a violência que sofreu e não esquece, precisa se conectar consigo mesma e descobrir o valor que tem escondido dentro de si. Pode parecer que a temática seja violência - porque é impossível pensar o nosso agora sem ela - mas ela sugere sempre que a gente combata fogo com fogo (Fire with fire)!
"Mulher" (MC Linn da Quebrada)
Um dos aspectos mais incríveis da experiência interseccional é o modo como se constrói a identificação somado a empatia à dor de outra pessoa. Não preciso ver alguém com a mesma identidade, corporalidade e experiência para admirar e captar a mensagem (num mundo utópico isso seria uma máxima real). MC Linn, que se autodeclara uma "terrorista de gênero" performa em Mulher uma vivência que questiona o termo de forma não-binária, favelada, negra. MC Linn dá voz a um empoderamento negro não-binário incrível, que também ironiza e desafia as atitudes de homens-cis que usam seu privilégio pra oprimir corpos, perspectivas e autoestima de sujeitos mulheres.
"Vai Virar o Placar" (Luana Hansen e Drika Ferreira)
Ouça a Playlist aqui ou abaixo:
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TRADUÇÃO: Idade, Raça, Classe e Sexo: Mulheres redefinindo a diferença (Audre Lorde)
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