10 motivos para assistir CRAZYHEAD (se você for fã de Buffy, claro!)

crazyhead
Amy (Cara Theobold) e Raquel (Susie Wokoma)

Se você está lendo esse artigo provavelmente é o tipo de fã de séries que misturam terror, fantasia, ficção científica e toda a farofada que for possível - tipo Buffy a Caça-Vampiros. A série deixou um vácuo em nossos corações que nem a continuidade em quadrinhos conseguiu preencher... Até agora!

A série Crazyhead é uma coprodução do E4 e da Netflix e tem toda a narrativa em torno de, não uma, mas duas, "chose One"(duas escolhidas). Diferente de Gilmore Girls que trouxe o frustrante revival EXATAMENTE igual aos anos 2000, Crazyhead desafia, ironiza e ataca quase todos os problemas das series daquela época. Claro que Willow/Tara foi uma revolução, bem como a moça loira sobreviver ao show de horror, mas havia muito pra melhorar em termos de representação. Se Joss Wheadon não permitiu que a caça-vanpiros Kendra sobrevivesse, porque só podia ter uma escolhida, Howard Overman fez de Rachel (Susie Wokoma) uma protagonista e tanto!

CRAZYHEAD é uma série britânica de humor e terror criada por Howard Overman (o mesmo produtor de Misfits, que tem na Netflix e super vale a pena). Apesar de Crazyhead não encabeçar o catálogo nem ter sido divulgada de forma decente, recomendo a vocês que amam Buffy a Caça-Vampiros, Birds of Prey, Firefly e Misfits. Duas jovens sensitivas se conhecem porque são capazes de enxergar a verdadeira natureza de demônios disfarçados. Elas são desajeitadas, com problemas de socialização e lutam contra os planos "do mal" juntas lidando com as diferenças. Ao todo são seis episódios cheios de ação, humor e melhores anticlímax. Por isso, elaborei essa lista com 10 motivos para assistir CRAZYHEAD!

10) Whitesplaning (explicação branca) é a grande piada!






Crazyhead começa de forma tradicional, dando ênfase à protagonista loira - Amy -  que toma decisões erradas do tipo que podem levar à morte. Muitas vezes ela quebra expectativas: se preocupa com questões raciais e conhece a história não-tradicional. Ela explica o tempo todo para geral (inclusive pessoas negras) o que é racismo e, a partir disso, cria situações ridículas. Neste exemplo é ridículo o rapaz racista e também é ridículo ela pressupor que a amiga Negra desconhece o que é racismo. Ao longo da série, Amy se beneficia da condição de mulher branca, "Tem até amigos negros", mas é racista. É bacana a série enfatizar que nenhuma dessas atitudes se anulam.

9) Tira os homens do pedestal.




A maioria dos comentários da série são enfatizando os efeitos da sociedade sexista sobre os homens-cis. Amy mostra grande habilidade em perceber quais podem ser úteis e quais não valem a pena e faz questão de usar esse conhecimento em prol das amigas. No mais, os dois homens da série não são lá grande coisa na história. Eles são termos acessórios e alvos de sua própria condição privilegiada. Não sentem vulnerabilidade... E são vitimizados! Todas as estratégias de violência psicológica são exploradas na série de forma interessantíssima!

8) Não há espaço pra broderagem!



A "clássica" rivalidade entre mulheres é invertida na série. São os homens que não aguentam a presença um do outro, brigam pelas mulheres de forma patética e nada convencional. 

7) subverte (e ri) dos papéis de gênero!


O mais comum é vermos homens-brancos-cis fazendo questão de interpretar o papel de gênero imposto, porque são os mais beneficiados. Não em Crazyhead! Jake (Lewis Reeves) é o personagem mais sentimentalista, frágil e sofrido. E toda a sua sofrência é motivo de piada à medida que Amy e Raquel mostram os privilégios dele inclusive de fazer drama na hora decisiva. A piada não é sobre ele ser um "boy desconstruidão", mas da inversão de papéis de gênero. Jake encarnada o papel normalmente dado às mulheres de rivalizar pelo interesse amoroso, necessidade de resgate e atuação como meras ajudantes. 

Homens conversando sobre a Síndrome de Estocolmo?!!!


6) Amizade entre mulheres



De cara somos introduzidas à Amy e vemos a realidade a partir da perspectiva dela. Sua melhor amiga é uma jovem negra chamada Suzanne (Riann Steele), a pessoa que cuidou dela a vida inteira e que, portanto ela faz questão de cuidar e proteger de todo o mal. Uma das características principais de Amy é sua certeza de que as amigas estão acima de tudo. Tem problemas? Tem. Mas, por hora, vamos focar a lição sobre sororidade.

5) Crazyhead mostra que Sexismo não poupa ninguém!

Raquel é a mais zoeira <3

Uma das personagens mais interessantes da série é a "Demônio mãe solteira", isto é, um demônio possuiu o corpo duma mãe solteira e tem que pagar babá, usar sutiã e - principalmente - lidar com a jornada tripla. Como ela pode ser um demônio eficaz se no tempo livre tem que cuidar do filho? Não há plano do mal que sobreviva à jornada tripla. 

A "Demônio mãe solteira" lida com tudo de uma vez, tanto que mal consegue ser do mal <3


4) Amy é uma Buffy BEM melhorada.


Enquanto Buffy Anne Summers desconhece seu lugar no mundo social e - sinceramente - nem se importa, a Amy tenta ser politicamente correta. A consciência e certo senso do ridículo colocam Amy vários pontos a frente da Chosen One. A maioria dos vilões chama Amy de qualquer coisa, não dão tanta atenção ao que ela pensa tanto quanto ela mesma. Além disso, Amy prevê atitudes sexistas dos rapazes e não tem vocação nenhuma para relacionamentos sexo-afetivos estilo Angel e/ou Spike. E ela não é nada Cool.

3) Todo mundo é estranha, que nem eu, que nem você!

"De leves"
Me diz você como não ser


Sabe quando ce não sabe o que falar? Em Crazyhead todo mundo é "gente como a gente": estranha, bizarra, diz coisas erradas por ansiedade, cai e se despe na hora errada, além de lidar com toda aquela Lei de Murphy que lidamos tão bem todos os dias!


2) Rompe (alguns poucos) clichês associados à personagem Negra.






Apesar de começar expondo os estereótipos associados às jovens Negras, a série avança nisso. Podemos até dizer que é humor negro. Embora Raquel seja uma comediante e, ao mesmo tempo, capaz de lidar com os demônios à volta, ela é uma pessoa sensível que só quer ter relacionamentos reais. Ao longo dos episódios, saímos do olhar de estranhamento de Amy e adentramos mais à realidade de Raquel. Ela não se torna primária porque a série exibe a realidade na perspectiva de Amy, mas há espaço para mostrar um processo de compreensão e respeito à "diferença". Enquanto Amy não tem nome, os demônios se referem à Raquel nominalmente porque ela é, além de "muito gracinha",  a peça-chave.

Racismo, sofrimento mental e inabilidade social são tópicos de discussão. A exibição disso como problema é bem eficaz porque mostra a garota branca e politicamente correta como melhor amiga duma garota negra, não porque venceu o racismo, e sim porque criou uma exceção confortável. Sendo assim, a reação dela à Rachel é racializada, mas isso é discutido a ponto de surgir uma amizade entre elas. Uma amizade muito real, mas longe do ideal. Apesar disso, o companheirismo é explorado de forma positiva.

1) Quebra o paradigma yin/yang. 





A metáforas de Crazyhead são muito avançadas. Todos os demônios são brancos e a maioria  deles são homens de modo que a mensagem central é sobre o poder das estruturas sociais sobre a vida das pessoas: racismo, sexismo e classismo principalmente. A interseccionalidade é explorada de forma surpreendente e inteligente. Racismo é apresentado por meio de metáforas e SEM WHITEPORN. Diferente de Orange is the New Black, toda vez que situações racistas são apresentadas há um apontamento de que é inaceitável. Não tem negro sofrendo por sofrer, não há dor pra crescimento do personagem negro. E, nisso tudo, Raquel é a dona da porra toda, mas duma forma inovadora. A narrativa constrói a diferença desconstruindo o estereótipo da mulher Preta forte que se opõe à feminilidade branca. Raquel se defende, ao passo que Amy ataca.. ora, então por que pressupor que Amy pe mais delicada, frágil e indefesa então? Fica também evidente que as reações estão relacionadas ao social, afinal privilégio faz toda a diferença.

Conclusão

Se for assistir Crazyhead, claro!

Crazyhead
 é uma série obrigatória para nerds feministas que se inspiraram em mulheres fortes como Buffy Summers e Zoe Washburne. Vale muito a pena assistir porque Crazyhead mostra que é possível sim fazer séries feministas incríveis, antirracistas e MUITO engraçadas - afinal, só acha que feminista não ri quem não entende o quanto privilégio é ridículo.


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