A mulher negra não heterossexual nas telenovelas
Talvez você ainda pense "essa eu não conhecia" ou "eita, verdade, tinha essa personagem também", digo isso porque pesquisei na conclusão da minha especialização os motivos pelos quais em um período de 46 anos, houve 156 personagens LGBT e desses, apenas uma era mulher negra não heterossexual. Sabe em que ano isso aconteceu? 2016, colega, a personagem foi a Adele de Totalmente Demais. Na maior parte das vezes que questionei sobre esse assunto, as respostas eram quase sempre as mesmas. Ninguém lembra, ninguém conhece, mas eu te pergunto, e na vida? Você conhece alguma mulher negra que se relacione afetivo-sexualmente com outras mulheres?
A meu ver falar sobre mulher negra já é falar de interseccionalidade. Crenshaw é uma professora do direito da Universidade da Califórnia e de Columbia que nos anos de 1980 desenvolveu teoricamente o conceito de interseccionalidade de desigualdades de raça e gênero, ela mesma cita que "reconhecer que as experiências das mulheres negras não podem ser enquadradas separadamente nas categorias da discriminação racial ou da discriminação de gênero.
Ambas as categorias precisam ser ampliadas para que possamos abordar as questões de intersecionalidade que as mulheres negras enfrentam". Compreendendo dessa forma, fica mais fácil imaginar que dentro de uma sociedade formada por desigualdades estruturais, uma mulher negra passa por experiências que não podem ser enquadradas em caixas separadas, pelo contrário, devem ser analisadas de forma conjunta, interseccional. Agora vamos um pouco além, e quando se fala na sexualidade e no corpo da mulher negra na mídia?
A Televisão é um meio de comunicação de massa gerido por empresas privadas, portanto não possui o interesse em contribuir - através da arte, cultura e técnica da comunicação - para a formação crítica de cidadãos, mas sim para lucrar e manter as perspectivas de seu interesse que envolve desde o sustento de estereótipos à naturalização de violências.
Os estereótipos existem para manter e reproduzir relações de poder, desigualdade e exploração, assim como, para justificar comportamentos hostis ou até letais dentro da sociedade (Filho, 2004). Naturalizar a propensão do corpo negro, feminino ou masculino, para atividades braçais e físicas como desculpa da ausência de negros no ensino superior é um exemplo de como reforçar estereótipos é prejudicial para a classe.
Assim como reforçar que meninos gostam de azul e matemática, mulher de rosa e artes, gays querem ser mulheres, lésbicas querem ser homens, transexuais são aberrações e bissexuais são indecisos intensifica ainda mais a manutenção dos estereótipos de divisão de gênero e legitimação do machismo, do patriarcado e da Lgbtfobia. Inclusive vou interromper o papo rapidinho para indicar um dos livros que eu mais adoro e que fala justamente sobre o apagamento, os estereótipos e a invisibilidade do negro na televisão brasileira, chama-se "A negação do Brasil" de autoria do cineasta e professor Joel Zito.
O apagamento do qual estamos falando perpetua ainda mais o estranhamento ao outro (o negro) e reflete na legitimação da exclusão não apenas midiática, mas também social, da mulher negra e do LGBT. Por esse motivo é comum escutar “apelidos” pejorativos ao negro, sua cultura, sua história e suas lutas, assim como os arquétipos determinados a pessoas assumidamente LGBTs, a heteronormatividade em casais, os estereótipos negativos que legitimam as várias formas de violência.
Isso tudo porque existe uma supremacia determinada que não pode ser abalada e que precisa estar sempre favorecida, ela é branca, masculina, heterossexual, cisgênera e rica. A concepção coletiva dessa superioridade define que esse padrão citado representa o que é belo, limpo, inteligente, culto e feliz, o que for oposto a isso não tem nada de bom. É essa noção que alimenta na sociedade as práticas racistas, sexistas, lgbtfóbicas, etc.
Por esses e outros tantos fatores que fica mais visível os motivos pelos quais apenas em 2016 que colocaram uma personagem negra bissexual numa telenovela e mesmo assim não se dá a devida visibilidade à sua sexualidade, como se ela não existisse ou tivesse alguma importância. Esse tipo de apagamento midiático corrobora ainda mais com o social. Da mesma forma que na TV nós não existimos, na vida real somos demitidas por causa da nossa sexualidade, não somos contratadas, somos silenciadas em diversos ambientes, expostas e ridicularizadas em outros, vítimas de estupros corretivos ou até mesmo mortas como Luana Barbosa foi. Falar das nossas narrativas não é um privilégio, é uma necessidade.
CRENSHAW, K. A. intersecionalidade da discriminação de raça e gênero. Cruzamento: raça e gênero. 2002. Acesso em: 02 de Junho de 2017.
FREIRE FILHO, J. Mídia, estereótipo e representação das minorias. Eco-Pós, v.7, p. 45-71, agosto-dezembro 2004.
SOARES, N. É. P.. Para eles eu não existo - A invisibilidade da negra não heterossexual nas telenovelas brasileiras. REVISTA PERIÓDICUS, 2017.
A meu ver falar sobre mulher negra já é falar de interseccionalidade. Crenshaw é uma professora do direito da Universidade da Califórnia e de Columbia que nos anos de 1980 desenvolveu teoricamente o conceito de interseccionalidade de desigualdades de raça e gênero, ela mesma cita que "reconhecer que as experiências das mulheres negras não podem ser enquadradas separadamente nas categorias da discriminação racial ou da discriminação de gênero.
Ambas as categorias precisam ser ampliadas para que possamos abordar as questões de intersecionalidade que as mulheres negras enfrentam". Compreendendo dessa forma, fica mais fácil imaginar que dentro de uma sociedade formada por desigualdades estruturais, uma mulher negra passa por experiências que não podem ser enquadradas em caixas separadas, pelo contrário, devem ser analisadas de forma conjunta, interseccional. Agora vamos um pouco além, e quando se fala na sexualidade e no corpo da mulher negra na mídia?
A Televisão é um meio de comunicação de massa gerido por empresas privadas, portanto não possui o interesse em contribuir - através da arte, cultura e técnica da comunicação - para a formação crítica de cidadãos, mas sim para lucrar e manter as perspectivas de seu interesse que envolve desde o sustento de estereótipos à naturalização de violências.
Os estereótipos existem para manter e reproduzir relações de poder, desigualdade e exploração, assim como, para justificar comportamentos hostis ou até letais dentro da sociedade (Filho, 2004). Naturalizar a propensão do corpo negro, feminino ou masculino, para atividades braçais e físicas como desculpa da ausência de negros no ensino superior é um exemplo de como reforçar estereótipos é prejudicial para a classe.
Assim como reforçar que meninos gostam de azul e matemática, mulher de rosa e artes, gays querem ser mulheres, lésbicas querem ser homens, transexuais são aberrações e bissexuais são indecisos intensifica ainda mais a manutenção dos estereótipos de divisão de gênero e legitimação do machismo, do patriarcado e da Lgbtfobia. Inclusive vou interromper o papo rapidinho para indicar um dos livros que eu mais adoro e que fala justamente sobre o apagamento, os estereótipos e a invisibilidade do negro na televisão brasileira, chama-se "A negação do Brasil" de autoria do cineasta e professor Joel Zito.
O apagamento do qual estamos falando perpetua ainda mais o estranhamento ao outro (o negro) e reflete na legitimação da exclusão não apenas midiática, mas também social, da mulher negra e do LGBT. Por esse motivo é comum escutar “apelidos” pejorativos ao negro, sua cultura, sua história e suas lutas, assim como os arquétipos determinados a pessoas assumidamente LGBTs, a heteronormatividade em casais, os estereótipos negativos que legitimam as várias formas de violência.
Isso tudo porque existe uma supremacia determinada que não pode ser abalada e que precisa estar sempre favorecida, ela é branca, masculina, heterossexual, cisgênera e rica. A concepção coletiva dessa superioridade define que esse padrão citado representa o que é belo, limpo, inteligente, culto e feliz, o que for oposto a isso não tem nada de bom. É essa noção que alimenta na sociedade as práticas racistas, sexistas, lgbtfóbicas, etc.
Por esses e outros tantos fatores que fica mais visível os motivos pelos quais apenas em 2016 que colocaram uma personagem negra bissexual numa telenovela e mesmo assim não se dá a devida visibilidade à sua sexualidade, como se ela não existisse ou tivesse alguma importância. Esse tipo de apagamento midiático corrobora ainda mais com o social. Da mesma forma que na TV nós não existimos, na vida real somos demitidas por causa da nossa sexualidade, não somos contratadas, somos silenciadas em diversos ambientes, expostas e ridicularizadas em outros, vítimas de estupros corretivos ou até mesmo mortas como Luana Barbosa foi. Falar das nossas narrativas não é um privilégio, é uma necessidade.
CRENSHAW, K. A. intersecionalidade da discriminação de raça e gênero. Cruzamento: raça e gênero. 2002. Acesso em: 02 de Junho de 2017.
FREIRE FILHO, J. Mídia, estereótipo e representação das minorias. Eco-Pós, v.7, p. 45-71, agosto-dezembro 2004.
SOARES, N. É. P.. Para eles eu não existo - A invisibilidade da negra não heterossexual nas telenovelas brasileiras. REVISTA PERIÓDICUS, 2017.
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