Preta, Nerd: Origens
Por Anne Caroline Quiangala
ORIGEM
Antes do Preta, Nerd & Burning Hell houve muita troca de referências nerds e acadêmicas ao longo da graduação (minha orientadora é uma #FeministaNerd incorrigível), de bares e de sucos com um dos meus amigos nerds mais amados. Certa vez ele me perguntou de que forma, eu como ativista, transporia o mundo de The Sims da universidade e levaria meu conhecimento para o máximo de pessoas possível. Isso foi em outubro de dois mil e catorze.Uma das coisas que aconteceram durante o mês de seleção da pós graduação foi o falecimento do pai de uma das minhas amigas mais próximas. Com isso, a única forma, a meu alcance, de mostrar minhas condolências era substituí-la numas aulas de literatura. Romantismo segunda geração, uma das minhas paixões adolescentes. Fácil. Neste dia, à tarde, dei uma vazão curiosa ao que me atravessava: misturei Lukács, The Walking Dead e umas referências de Heavy Metal ao Álvares de Azevedo e à "vontade de morrer que vocês têm" (não foi uma piada infeliz sobre suicídio, mas a certeza de que o egotismo de Azevedo faz todo o sentido quando temos 15 anos).
Essa tradução espontânea do que consideram "difícil" para a realidade da "juventude" não é nada novo, mas ainda vemos pouco esse tipo de iniciativa. A verdade é que todo mundo é capaz de compreender qualquer coisa, desde que saibam comunicar a tal coisa. E, sendo assim, uma das minhas primeiras interlocuções sobre teoria e #nerdiandade foi com alunas brilhantes e sensíveis de quinze anos. Isso foi até novembro. Em seis de dezembro de dois mil e catorze recebi o resultado final da seleção de pós-graduação: aprovada, mestranda numa universidade pública. A primeira sensação que me infundiu foi a de que eu poderia compartilhar meu processo de pesquisa com a comunidade toda, não apenas acadêmica e não apenas o resultado final. Assim, eu poderia também exercitar a leitura, a análise e a escrita.
No dia catorze eu já havia me tornado fã de Aph ko e sua websérie Black Feminist Blogger. Ora, tava aí a resposta pra minha iniciativa: sou preta e vivo em ambientes inóspitos como a academia, o meio Nerd e o mundo do Heavy Metal... Eu só precisava dum nome.
Eu queria reunir no título toda a minha experiência que a incrível Jamie Broadnax havia conseguido reunir no BlackGirlNerds.com. Preta, Nerd é o óbvio, mas como exprimir o apreço pelo Heavy Metal? A expressão constante em bandas como Black Sabbath, Venom, Chakal (MG) e Poison God (ES) era "Burning Hell" e assim ficou. No primeiro dia a página do Facebook chegou aos cem seguidores e tive muito feedback, fato que corroborou para o investimento na produção e na regularidade.
Já em 2016, após o grande alcance do texto sobre Star Wars VII (e os primeiros sinais de haters) lancei a convocação possibilitou a reunião da equipe Preta, Nerd. Um blog colaborativo é positivo por diversas razões, desde as parcerias até à pluralidade de pontos de vista como observamos na ocasião de estréia das Caça-Fantasmas, por exemplo. Os horizontes do Preta, Nerd se ampliaram a cada nova colaboradora.
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