Marvel’s Runaways: onde The OC encontra Os Defensores

Quando você é fã de quadrinhos, não importa se é uma franquia que você leu todos os arcos ou uma que você ouviu falar que era boa, o que importa é que você quer uma adaptação bem-feita dessa obra. Foi exatamente isso que eu recebi quando vi os episódios liberados de Marvel’s Runaways.


Por Camila Cerdeira

Infelizmente não tive oportunidade de ler ainda os quadrinhos que inspiraram a nova série de Josh Schwartz e Stephanie Savage (The OC e Gossip Girl), mas ela é bem autoexplicativa. Os personagens adolescentes, são 6 ao todo, são os protagonistas bonzinhos que descobrem ter poderes e os pais deles, que são uma organização chamada de PRIDE, são os vilões. O que é um roteiro bem simples, mas foi bem feito.

Cada um dos adolescentes representa quase que um estereótipo vindo do Clube dos Cinco do John Hughes e como no filme eles também vão além dessa imagem inicial. A conversa entre Nico e Karolina mostra bem isso, ambas sabem que a outra está sofrendo com o luto de Ami, irmã mais velha de Nico, e se escondendo. Uma na maquiagem gótica e a outra no sorriso de garota perfeita da igreja e esse é o tipo de entendimento que você sabe que duas pessoas só têm do convívio de longa data.


Honestamente, eu veria essa série mesmo se ela não tivesse cultos demoníacos que sacrificam adolescentes de 17, superpoderes e dinossauros. Por que a ideia de ver um grupo de amigos que crescer junto e que se afastou devido a morte de um deles e agora por algum motivo estão achando seus caminhos de volta é o tipo de conteúdo que me interessa. Eu não vi 7 temporadas de Pretty Little Liars pelas revelações mequetrefes de quem era –A.

Mas essa série tem poderes e um dinossauro, o que deixa tudo muito mais legal. Não, é sério. Por mim mais historias investiriam em ter dinossauros em seu enredo. Até o presente momento do episódio 3, apenas duas pessoas demonstram ter poderes, Karolina e Molly. Eu ainda não entendi qual a utilidade do poder da Karolina, sério, ela é uma versão humana da aurora boreal, lindo de se ver, completamente inútil numa luta. Por outro lado, a pequena Molly, minha mais recém adotada filha, tem a clássica super força. A cena dela testando se realmente tinha poderes foi de uma honestidade que valeu a pena ver. Uma menina de uns 13 anos cogita ter super força, obvio que ela vai tentar levantar uma Kombi e sair rodopiando gritando yes pela garagem, talvez eu fizesse isso e tenho 28 anos.

Os outros ainda não demonstraram poderes. Gert possivelmente acalmou o velociraptor que os pais guardavam no porão, isso exige explicações urgentes, tanto da parte da Gert quanto dos pais, como alguém tem um dinossauro em casa? Chase parece que além do privilegio branco, ele entende de engenharia como pai. Nossa gótica favorita, Nico, herdou o báculo da Sakura e faz nevar com ele. E o Alex, ele juntou a gangue e beijou a Nico, é mais do que se pode dizer dos outros.


Agora o que achei mais interessante foram os pais. Talvez eu esteja ficando velha, mas gostei que eles não apenas vilões unilaterais de risada maligna. Eles têm os próprios dilemas e questionam, até se o que estão fazendo é correto. Obvio que alguns são sem defesa, como o caso do Victor Stein, pai do Chase, que é um pai abusivo e muito provavelmente um marido abusivo enquanto que o pai do Alex parece o mais correto, chegando a ser o mais receoso em fazer o sacrifício. E o pai de Karolina nem no culto está, ao que indica teve a mente apagada e é o enredo que mais me deixa curiosa.

Algumas pessoas podem ter achado que os dois últimos episódios foram meio lentos em relação ao primeiro disponível. Eu acho que todos foram não só excelentes como necessários para o melhor entendimento do que estava acontecendo. Podemos ver todos os pontos de vistas, como as relações se desenrolam e ter respostas o bastante para entender quais perguntas fazer daqui para frente. Como se o piloto da série fosse um filme divido em três partes.

Infelizmente nem tudo foi perfeito e algumas coisas de roteiro me incomodaram bastante. A Karolina quase ser estuprada serviu exclusivamente para gente descobrir que Chase não é um babaca. Os roteiristas entendem zero de movimento social e de como adolescentes se posicionam no feminismo, então a Gert é na verdade uma grande piada de mau gosto, onde ela solta frases muitas vezes incoerentes que estão longe de feminismo realmente e no final se colocando numa posição de rival com Karolina pela atenção do Chase. O irônico é que a atriz que interpreta a Gert, Ariela Barer, esteve na série One Day At A Time, que eu comentei aqui e aqui, como melhor amiga de uma personagem que é a versão bem escrita da Gert.

Como minorias raciais são tratadas, obvio que o cara negro esteve na prisão e é membro de gangue, obvio que que os asiáticos tão ligados com uma empresa de celulares, donos/CEO, mas ainda assim e obvio que a garota latina de 17 anos tem uma filha de 3 anos, caso não tenha feito as contas ela deu a luz com 14 anos e essa menina latina termina morta de forma brutal pro plot andar. Eu espero mais, eu passei do tempo em que engolia série de gente branca, super gente ou não, Marvel e o pessoal da Fake Empire tem que melhorar como tratam isso. Outra aquela cena hipersexualizando um beijo entre duas meninas, a desculpa de que por que era a visão da closeted Karolina não vai colar, ainda foi errado sexualizar aquele beijo.


A série tá tão boa, que eu me permiti implicar com esses detalhes. Vocês já me deram um elenco que é simultaneamente igual ao quadrinho e que é competente o suficiente no que é exigido deles. São personagens complexos, com tramas interessantes e profundas, mas que não deixam o fator entretenimento de lado. O básico eu já tenho e ele está muito bem feito, então agora eu quero subir o nível.

Por exemplo, o Alex é maravilhoso. Um personagem inteligente, sensível e meio solitário que é um rapaz negro, você não vê esse tipo de narrativa com muita frequência. Ou um casal inter-racial onde ninguém precisou ser branco para ele existir. Uma garota asiática que não é nem hipersexualizada e nem tratada como uma boneca de porcelana. Nico ser uma gótica wiccana é uma das melhores ideias que a série/quadrinho poderia ter.

Foram três episódios já, o que talvez seja pouco por que vou falar. Mas acredito que essa é a melhor estreia e talvez melhor série de HQ da temporada e olha que temos uma boa temporada para quem é fã do estilo.
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