Black Lightning – 1x03 – LaWanda: Book of Burial
O
terceiro episódio de Black Lightning saiu e a série continua mantendo o nível
inicial. Eu digo até que esse terceiro episódio é meu favorito até o momento,
teve de tudo, debate importantes e relevantes a comunidade negra, Anissa
descobrindo seus poderes melhor, a primeira aparição de Grace Choi e Lady Eve.
Por Camila Cerdeira
Vamos
primeiro falar sobre a cena inicial como reverendo. Eu não sou uma pessoa
religiosa, muito pelo contrário, mas acredito que para muitas pessoas a
religião e a igreja possam ser algo benéfico e acolhedor. E historicamente nos
Estados Unidos a igreja é uma parte significativa da construção cultural negra
lá. Era um dos poucos espaços seguros para negros pós escravidão e durante o
período de segregação. Então a figura de um pastor ou de um reverendo é muito
forte lá.
Perceber
que até as igrejas estão nas mãos de The 100 me foi um pouco chocante. E ver o
reverendo jogando na cara de um policial que eles têm que pagar proteção para
uma gangue que está matando os moradores de Freeland por que a polícia é
corrupta e está sendo paga pela gangue para deixar o crime acontecer. O
reverendo até usa uma expressão que no Brasil pode ser traduzida como Capitão
do Mato, que eram os negros (muitas vezes mestiços, filho de algum senhor da
casa grande) cujo papel era capturar os negros foragidos e mantê-los na linha através
de violência. Nos Estados Unidos essa figura ficou conhecida como Uncle
Tomas/Tio Tomas.
E
em contra partida o policial argumenta que ele está todo dia lidando com a violência
das gangues e tendo que tirar corpos negros mortos das calçadas enquanto
reverendo está com seus ternos de grife secando o suor com lenços de seda.
E
como disse na review passada, essa é mais uma situação onde os dois lados tem
suas razões e eu não consigo necessariamente discordar de nenhum, ainda que não
concorde 100% com nenhum também.
No
meio disso está Jeff Pierce e o Raio Negro. O retorno do herói inspirou a
comunidade e pessoas estão usando a figura dele para lutar contra a injustiça.
E talvez quando o Jeff tenha começado a ser um super herói essa era a intenção,
algo similar com que Anissa está sentindo, a vontade de fazer a coisa certa e
de ajudar a comunidade de qualquer jeito, por que apenas os protestos e marchas
não estão solucionando nada. Mas agora Jeff Pierce é um homem adulto, maduro e
pai de família que sabe o que é ser responsável por mais pessoas do que a si
mesmo. Ele não queria que LaWanda morresse tentando fazer a coisa certa, tão
pouco quer isso para o reverendo ou qualquer outra pessoa de Freeland.
Acredito
que em algum ponto temos que aceitar que nem todo mundo pode ser salvo ou
mantido em segurança. Freeland é um campo de guerra como quase toda cidade é
hoje em dia, no Brasil um jovem negro é morto a cada 23 minutos, ou seja,
praticamente dois morreram enquanto eu via um episódio de Black Lightning.
Então eu entendo você querer se colocar em ação, arriscar a própria vida sob
uma perspectiva de que se não tentar nada nunca irá melhorar.
A
marcha contra The 100 aconteceu, a gangue retaliou e o Black Lightning teve o máximo
de preparação possível para proteger aquelas pessoas e ainda assim o revelendo
foi baleado e um jovem promissor que iria conseguir sair do ciclo de violência daquela
comunidade talvez acabe numa cadeira de rodas e perca tudo que conquistou. Não
se pode salvar todo mundo, mas se ninguém tentar mudar vamos terminar sem
salvação alguma.
Anissa
começou a entender como seus poderes funcionam e eu gosto que ela esteja
tomando seu próprio tempo nessa trama. Não faria sentido algum ela em 3
episódios sair usando um capuz e tentando lutar contra o crime. Agora preciso
confessar que fiquei bem frustrada com a introdução da Grace Choi. Não pela
personagem em si, que é bem carismática e trouxe uma edição de Outsiders, que
no Brasil se chama Renegados e é o grupo de heróis que ela e Anissa fazem
parte. Mas todo termino de namoro da Anissa foi atropelado.
No
episódio passado vimos que havia problemas na relação, mas só arranhamos a superfície
disso, dois episódios e eu nem lembro o nome da namorada. Podiam ter trabalhado
isso melhor. Raramente temos um casal formado por duas mulheres negras, um
casal desse numa boa ótica é ainda mais raro, fora que mulheres negras são
constantemente preteridas, existem milhares de textos sobre a solidão da mulher
negra e isso não é um problema exclusivo de mulheres que se relacionam com
homens. Mulheres negras que se relacionam com mulheres também sofrem
preterimento.
Então
pegar um casal de duas mulheres negras, separa-las sem nenhum tipo de
construção entre elas só por que nos quadrinhos a Anissa namora com a Grance
Choi. E eu nem estou defendendo que a Anissa deveria ficar interminavelmente
com a namorada negra por que ela é negra. Estou dizendo que o casal delas duas
merecia uma construção melhor, mesmo que fosse uma construção voltada para
justificar o termino delas. Em vez de simplesmente a garota pegar a Anissa em um
Collant Sem Decote (#SDDS #NebullaTáMaravilhoso #Visitem) dançando com outra
mulher.
Tirando
essa minha frustração o episódio foi realmente maravilhoso e tivemos o primeiro
gostinho de Lady Eve, que é basicamente a Black Mariah do Tobias. Estou muito
curiosa pelo que essa personagem vai trazer.
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