Rosa Diaz e o B de LGBT Não é de Brooklyn 99


Brooklyn 99 é uma das melhores comédias em exibição na atualidade, mas eu não vim falar sobre o quão maravilhosa é a série em geral, e sim de um ponto especifico, o arco de saída do armário de Rosa Diaz.

A personagem é interpretada brilhantemente por Stephanie Beatriz e a atriz foi fundamental para esse arco de sua personagem. No entanto os detalhes eu irei puxar depois.



Rosa é uma detetive durona e extremamente discreta quanto a sua vida pessoal. Seus colegas de trabalho não sabiam nem onde ela morava, por sinal ela assinou o contrato de aluguel do apartamento sob um nome falso para que não pudesse ser rastreada. Ela é discreta a esse ponto.

Sobre seus relacionamentos tudo que sabíamos era que ela namorou o sobrinho do Capitão Holt, o que de uma forma muito estranha aproximou os dois personagens. E também teve um relacionamento conturbado com o ex-colega Pimento.

Até o momento só sabíamos que a detetive se relacionava com homens. E se vivêssemos em uma sociedade linda, mágica e harmoniosa ninguém iria presumir que ela é hetero.



 Porém, não vivemos nesse mundo, então quando Boyle pega a amiga conversando de forma afetuosa e romântica com alguém no telefone já começam as insistentes perguntas de quem é o novo namorado. Por fim Diaz cede e revela que o namorado é uma mulher e que ela é bi.

Don Goor, criador da série, declarou: “Nós queríamos que Rosa dissesse a palavra ‘bi’ em voz alta, por que é como ela se identifica e nós sentimos que era importante ser claro sobre isso. Ainda mais que existe tão pouca representação de personagens bi na TV”. O que é mais uma prova do quão consciente são os roteiristas da série.



Personagens bis são amplamente mal representados. Por vezes são considerados heteros que tiveram uma fase como as personagens Marissa de The OC e Adrianna de 90210 ou são lidas como lésbicas que demoraram a se descobrir como Willow de Buffy – A Caça Vampiro. Há ainda o caso das séries que fazem um malabarismo para que mesmo seus personagens ficando com pessoas de diferentes gêneros não dizem a palavra com B. Um exemplo disso é Annalise em How To Get Away With Murder ou Piper em Orange Is The New Black.

A escolha de criar um arco de saída do armário não surgiu puramente da produção da série. Os fãs faziam campanha há temporadas para Rosa não ser hetero, o que ganhou força quando Stephanie Beatriz veio a público como bissexual e apoiava que sua personagem também fosse bi. A atriz desejava que a trama fosse feita de forma natural.

Diaz se revela bi para Boyle no episódio intitulado 99, marcando o 99º episódio da série. E no 100º episódio ela se assume para os demais colegas e familiares.



E aqui nos deparamos com outro diferencial na narrativa. Rosa tem um arco de saída do armário sem precisar de um onde redescobre sua sexualidade. Ela sabe que é bi desde a segunda série e nunca contou isso no trabalho pelo mesmo motivo que não contou seu verdadeiro endereço.

Agora com Boyle sabendo, ela escolheu se assumir nos próprios termos. Isso mostra o que pouquíssimas tramas LGBT+ mostram, temos que sair do armário ao começar um novo emprego, ao fazer um curso, ao alugar um apartamento ou simplesmente ao conhecer novas pessoas. Ser LGBT+ numa sociedade hetero-cisnormativa é ter que sair do armário diariamente.

E isso é uma realidade que Stephanie Beatriz conhece de perto, o que permite uma maior sensibilidade em sua atuação. Vale lembrar que ela não é a primeira pessoa não branca e não hetero a interpretar uma personagem não branca e não hetero. Sara Ramirez, que é bissexual, interpretou a bissexual Callie Torres em Grey’s Anatomy, o também bissexual Keiynan Longdale interpretou o gay Ollie em Dance Academy, Samira Wiley não é hetero e interpretou a lésbica Poussey em Orange Is The New Black.

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