Minha primeira luta e o poder da Cláusula de Inclusão

Frances McDormand deixou muitas pessoas confusas ao encerrar seu discurso de vencedora da categoria de melhor atriz no Oscar 2018 com três palavrinhas: Cláusula de Inclusão. O que exatamente essa cláusula significa? Poucos dias depois Michael B. Jordan anunciou que iria passar a adotar a cláusula de inclusão em todas as produções de sua produtora Outlier Society.


Por Camila Cerdeira

O que essa cláusula faz? Ela permite que um ator, atriz, roteirista, diretor ou diretora exija que a produção a qual faz parte tenha uma porcentagem mínima exigida para determinada minoria social, podendo ser gênero, raça/etnia, LGBTQ entre outras. Assim os projetos são forçados a dar oportunidade a pessoas que devido a preconceitos sociais e opressões estruturais não recebem oportunidades de forma igual e justa.

Minha Primeira Luta, filme produzido pela Netflix, escrito e dirigido por Olivia Newman e estrelado por Elvire Emanuelle foi feito utilizando da cláusula de inclusão. O filme foi realizado com 60% da equipe de produção formado por mulheres incluindo designer de produção, editor, figurinista e diretora de fotografia

O filme narra a história da adolescente Mo, jovem negra que faz parte do Foster System. O sistema de adoção adotado nos Estados Unidos, seu ela acredita que seu pai se encontra preso e por tanto não tem mais direito a guarda da filha, a mãe, bem, ela nem ao menos é citada no decorrer do filme.


Ela vive uma negligencia parental e abandono com a qual reage com mal comportamento e muita agressividade. Logo de cara descobrimos que ela, repito uma adolescente, tem mantido relações sexuais com o padrasto ou namorado da mulher que a estar hospedando e que deveria cuidar dela. Esse caso leva Mo a ser expulsa de casa e ser relocada em outro lar provisório.

Durante essa relocação a adolescente descobre que seu pai saiu da prisão e conseguiu um trabalho. Nada que lhe dê estabilidade financeira, mas o suficiente para ela sonhar em voltar a morar com ele. Porém sua assistente social é bem cética sobre a situação do seu pai e sendo bem honestos o pai não faz a menor questão de se reconectar com a filha.

É aqui que entra a luta livre, o pai da moça em seus tempos de adolescente foi campeão estadual em sua modalidade e quando Mo era criança ele ensinava um pouco do esporte para ela e pare seu melhor amigo. Ela então se determina a entrar no time da escola para ganhar a atenção do pai. O que de certo modo funciona, a moça é focada, tem facilidade com o esporte e logo passa a titular e estrela do time. O que faz com que o pai se aproxime, no entanto não pelas razões que ela acredita.

Já vi muitos filmes centrados na relação pai e filha. Geralmente envolve um pai superprotetor que não permite sua garotinha fazer nada ou se envolver com ninguém, ou então pais completamente ausentes que fazem as filhas fazerem todas as escolhas erradas. E de certa forma esse é um filme sobre fazer todas as escolhas erradas na tentativa de suprir uma atenção e carinho nunca antes recebido. A ponto de colocar a integridade física da Mo em risco, mas este é um filme visceral, violento.


Existem cenas que são difíceis de olhar onde há sangue e eu posso jurar que vi dentes voando. E ainda assim existe um tom intimista que te puxa para dentro da história, que faz você sentir a dor, o medo e a fragilidade da protagonista mesmo em meio a tanta violência e agressividade.

E para mim é determinante saber que é uma mulher responsável pela direção de fotografia, que foi capaz de entender essas nuances da personagem e transmitir isso nas imagens sem sair na estereotipação ou hipersexualização. Esse filme foi uma grata surpresa que a Netflix trouxe no final de março e seria uma pequena que ele saísse despercebido pelo grande público.
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