Nossos mortos têm voz: memória e luta contra a violência do Estado
Dia 27 de março fui à pré-estreia do documentário Nossos mortos têm voz no Rio de Janeiro. Trata-se de um documentário dirigido por Fernando e Souza e Gabriel Barbosa e que coloca em primeiro plano a experiência de mães e familiares que tiveram seus parentes mortos em decorrência da violência do Estado na baixada fluminense.
No dia 31 de março deste ano completou-se 13 anos da maior chacina da baixada fluminense, em que 29 pessoas foram mortas por policiais. O filme se propõe a discutir como opera a violência do Estado, materializada através de agentes públicos e que recai especialmente sobre jovens negros e favelados. Vale lembrar que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil, que no município do Rio de Janeiro, um em cada quatro homicídios foi cometido pela polícia no ano passado e que a Baixada Fluminense registrou quase 2000 mortes violentas no mesmo período, segundo dados da Anistia Internacional. A região também concentra altos números de desaparecimentos de pessoas, o que, como vemos no filme, indica que vários homicídios ocorrem com ocultação dos corpos por agentes públicos, sendo registrados então como desaparecimentos e evitando maiores investigações.
O filme também alude à dimensão estrutural da violência do Estado, mostrando a relação entre a atuação dos policiais, milícias e grupos de extermínio e organizações políticas e interesses econômicos, o que se manifesta também na impunidade quase que total dos crimes cometidos por eles.
A ênfase dada sobre as experiências das familiares, mulheres que transformam seu luto em luta, que sofrem ameaças e que expõem as injustiças, desrespeitos e violências cometidas por policiais, dão um tom angustiado e duro à narrativa do documentário. Ver o filme é se confrontar com sensações de dor, tristeza e muita revolta. Ao mesmo tempo, há a luta delas pelo não esquecimento, pela preservação da memória de seus filhos e familiares. Esta luta foi mencionada também através da decoração das cadeiras do cinema com os nomes de algumas das vítimas. Antes da exibição do filme, mães e familiares de vítimas da violência do Estado subiram ao palco e falaram os nomes de seus filhos, ao que a plateia respondia: PRESENTE.
Após o filme, a fala de Jurema Werneck, médica, ativista e diretora da Anistia Internacional, salientou a necessidade de ouvir o que as mulheres negras têm a dizer e de aprender com sua luta. Suas demandas de justiça indicam que elas querem, de fato, um outro Estado e uma outra sociedade. Que sejam ouvidas e que mais vozes se somem às suas demandas.
O trailer do filme pode ser visto aqui:
Anna Bárbara Araujo
No dia 31 de março deste ano completou-se 13 anos da maior chacina da baixada fluminense, em que 29 pessoas foram mortas por policiais. O filme se propõe a discutir como opera a violência do Estado, materializada através de agentes públicos e que recai especialmente sobre jovens negros e favelados. Vale lembrar que a cada 23 minutos um jovem negro é assassinado no Brasil, que no município do Rio de Janeiro, um em cada quatro homicídios foi cometido pela polícia no ano passado e que a Baixada Fluminense registrou quase 2000 mortes violentas no mesmo período, segundo dados da Anistia Internacional. A região também concentra altos números de desaparecimentos de pessoas, o que, como vemos no filme, indica que vários homicídios ocorrem com ocultação dos corpos por agentes públicos, sendo registrados então como desaparecimentos e evitando maiores investigações.
O filme também alude à dimensão estrutural da violência do Estado, mostrando a relação entre a atuação dos policiais, milícias e grupos de extermínio e organizações políticas e interesses econômicos, o que se manifesta também na impunidade quase que total dos crimes cometidos por eles.
A ênfase dada sobre as experiências das familiares, mulheres que transformam seu luto em luta, que sofrem ameaças e que expõem as injustiças, desrespeitos e violências cometidas por policiais, dão um tom angustiado e duro à narrativa do documentário. Ver o filme é se confrontar com sensações de dor, tristeza e muita revolta. Ao mesmo tempo, há a luta delas pelo não esquecimento, pela preservação da memória de seus filhos e familiares. Esta luta foi mencionada também através da decoração das cadeiras do cinema com os nomes de algumas das vítimas. Antes da exibição do filme, mães e familiares de vítimas da violência do Estado subiram ao palco e falaram os nomes de seus filhos, ao que a plateia respondia: PRESENTE.
Após o filme, a fala de Jurema Werneck, médica, ativista e diretora da Anistia Internacional, salientou a necessidade de ouvir o que as mulheres negras têm a dizer e de aprender com sua luta. Suas demandas de justiça indicam que elas querem, de fato, um outro Estado e uma outra sociedade. Que sejam ouvidas e que mais vozes se somem às suas demandas.
O trailer do filme pode ser visto aqui:
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