Os Livros de Vitor Martins
Se
você acompanha o Booktuber provavelmente ouviu falar de Vitor Martins, o jovem
ilustrador depois de ter um bem estabelecido canal sobre livros se tornou
escritor tendo dois livros publicados.
Por Camila Cerdeira
Seu
primeiro livro foi uma grata surpresa. Quinze Dias podia puramente ser a história
de um garoto gordo e como ele se envolveu com seu vizinho bonitão. E é
importante termos essas histórias com protagonistas gordos, gordofobia é algo
grave que afeta muitas pessoas e que não tem a devida representação.
Mas
Vitor Martins foi um pouco além, criou personagens humanos criveis e que são
muito mais do que a opressão que sofrem ao mesmo tempo que não retira o peso
que é ser parte de uma minoria social e como opressões podem
interseccionalizar.
Seu
primeiro livro conta a história de Felipe, um jovem gay que sofre bullying na
escola por ser gordo e estava ansioso para as férias de junho do seu terceiro
ano, ele só não contava que o vizinho, Caio, por quem ele sempre foi apaixonado
fosse passar quinze dias hospedado na casa dele. Sim, o livro trata de dois
adolescentes gays, mas não traz nenhuma história de sair do armário, os dois
apesar de terem 17 anos apenas já sabem que são gays há muito tempo, os
personagens relevantes com falas nos livros são praticamente todos LGBT.
Você
tem uma personagem bi, você tem a Becca que é gorda, negra, lésbica e muito
maravilhosa, de longe a minha personagem favorita do livro. Você tem uma linda
relação entre o Felipe e a mãe que é algo raro em livros sobre jovens LGBT.
Outro pontoo positivo é como ele trabalha a interseccionalidade das opressões,
Caio é tido como um gay padrãozinho, mas ele sofre com algumas formas de
opressão que o Felipe mesmo sendo fora desse padrão não precisa lidar. Becca
traz a discussão como a gordofobia afeta diferente homens e mulheres desde
criança, além de falar sobre como é ser uma mulher negra ou uma mulher não
hétero. Melissa, namorada da Becca, é magra e loira e ainda assim é extremamente
insegura da sua aparência e isso faz o Felipe repensar como ser magro não apaga
todos os seus problemas.
Em
seu segundo livro, Um Milhão de Finais Felizes, é possÃvel notar já um
amadurecimento como autor e a abordagem de temas ainda mais delicados como a
relação de pessoas não héteros com religião e com a famÃlia. Ainda assim o tom
leve do primeiro livro se mantém.
Nesse
livro o Vitor Martins vai falar do Jonas, um aspirante a escritor que nunca
conseguiu terminar de escrever uma história e que trabalha numa cafeteria na
Avenida Paulista. Tudo vai seguindo a rotina normal da vida até que um dia
Arthur aparece, um garoto muito bonito, barbudo ruivo que lembra um pirata
desperta o interesse de Jonas.
Como
falei anteriormente, é bem perceptÃvel a evolução na escrita do autor, o
primeiro livro é curto, são 200 e poucas páginas, apesar de muito importante
ele não realmente se aprofunda muito nas questões que aborda. Ainda que traga
bons insights ao longo do livro, já no segundo livro Vitor não teve medo do
drama e trouxe com segurança algo bem delicado de se tratar e algo que é muito
fácil autores pesarem a mão no melodrama e que ele não pesou, tão pouco houve
uma resolução fácil e irreal. O realismo de Um Milhão de Finais Felizes é o que
eu mais gosto.
Se
alguém me pedir uma recomendação de autor nacional, principalmente para
adolescentes e jovens adultos, sem dúvida indico Vitor Martins.
Comente!