PerifaCon | A primeira Comic Con da favela!


 Por Alessandra Costa

Hoje vou contar um pouco sobre a minha saga épica na PerifaCon!
A primeira "quest" foi sair da zona oeste da Grande SP e chegar a um outro extremo, na sul da capital pela primeira vez na minha vida. Apesar da distância, ao chegar,  me senti em casa.
Na fila para a entrada do evento, encontrei mais pessoas como eu, e tão ansiosas quanto, para estar em um ambiente que acolhe a sua imaginação e os seus sonhos de porta abertas.
A minha principal quest (missão) foi aproveitar o máximo possível essa oportunidade e, como sempre, o que mais me atrai nesses eventos são os painéis.

Mesa de Debate "Produção e Representatividade Negra no quadrinhos"


Começando então pelo primeiro painel do dia "Produção e Representatividade Negra no quadrinhos", com uma bancada de peso formada por Lya Nazura (artista visual, educadora e pesquisadora), Marília Marz (arquiteta, ilustradora e quadrinista), Robson Moura (ilustrador, pintor e desenhista) e Marcelo d'Salete (quadrinista, ilustrador e professor) e mediação do Load (grafiteiro e influencer).


Lya Nazura, Marília Marz, Load, Robson Moura e Marcelo d'Salete.

Na discussão, foi reforçada a importância de incentivarmos que o negro conte sua própria história, se aproprie dela, para que possamos ter uma diversidade de narrativas negras, que podem sim partir dos super heróis, mas não somente dessa vertente e não ficarem apenas na estigmatização existente hoje em dia. As histórias negras não são apenas Pantera Negra e, menos ainda, Da Cor do Pecado.

Prova dessa diversificação é a obra de Marília Marz, que do ponto de vista arquitetônico, fala sobre o apagamento físico dos negros em nossa história contando sobre o bairro da Liberdade em São Paulo, onde foi revelador para mim descobrir que o bairro foi um dos palcos da escravidão no país, tendo por exemplo, um cemitério de escravizados soterrado e consequentemente apagado de nossas memórias. Esse é apenas um dos resgates e uma das interessantes narrativas que podem surgir a partir da apropriação da nossa história.


Mesa de Debate "Produção de podcast no Brasil e porque ninguém consegue para de ouvir"


O painel sobre Podcast foi uma tietagem que só, encontrei aquelas que encantam meu coração com sua voz ativa!  Com a presença de Ira Croft (Mundo Freak e Ponto G), Felipe Figueiredo (Xadrez Verbal), Aline Korougloyan (HQ da Vida), Beatriz Fiorotto (Judão) e com a mediação de Cris Bartis (Mamilos).


Ira Croft , Felipe Figueiredo, Aline Korougloyan , Beatriz Fiorotto e Cris Bartis.

O podcast está em movimento, junto com seus ouvintes. É o companheiro que deixa mais leve o lavar de uma pilha de louças, o sobreviver ao trânsito, o trabalhar, enfim, não é estático, essa foi a primeira constatação do painel. Esse formato está adequado também a nossa atualidade, pois não nos contentamos mais com o sentar e assistir ao Jornal Nacional e, assim, se sentir informado; queremos outras visões de um mesmo fato, queremos nos aprofundar nesse fato e assim chegar a nossas próprias conclusões. Se a grande mídia não nos conta a história de Dandara, temos por exemplo, o Ponto G, que no empenho de uma pesquisa árdua nos mostra figuras femininas e histórias que são ignoradas em nossos livros didáticos. Isso pra mim é o "hackear o sistema", termo da maravilhosa Cris Bartis. É trazer novas vias de informação e consequentemente novas vias de transformação e para que essa mudança seja cada vez mais profunda, foi reforçado no painel a relevância do patrocínio. Se utilizado como um direito do povo, podcasts com potencial podem ir mais longe, alcançar mais ouvintes e descobrir mais talentos, muitos desses talentos estão na periferia, aguardando apenas a oportunidade.


Mesa de Debate "Mulheres no Mundo Nerd"


No último debate, eu pude sentir o acolhimento e a sororidade entre as nerds! Me representando no palco do painel estavam Raquel Motta (programadora de jogos), Adriana Melo (Chiaroscuro Studios), Natália Bridi (Omelete) e Juliana Oliveira (Minas Nerds) como mediadora. 

Raquel Motta, Juliana Oliveira, Adriana Melo e Natália Bridi.

A maior lição que tirei desse debate foi que nós, mulheres nerds, não devemos nada a ninguém. Apesar do nerd que se acha "raiz", mas é tão fresco quanto uma nutella, achar que precisamos nos validar como nerds e ter direito a essa suposta carteirinha e tentarem nos intimidar, podemos encontrar entre nós mesmas o suporte e apoio que precisamos, podemos nos blindar dessa toxicidade, muito presente e legitimada na internet, e mudar perspectivas e percepções. A figura mais marcante pra mim no painel foi a Raquel. A mais nova da turma, ela é programadora de jogos em um ambiente que ainda não assimilou muito bem, em pleno século XXI, que existem mulheres programadoras e ela contribui para que esse estigma seja ultrapassado, mesmo ainda tão nova e com tanto futuro pela frente! Como ela mesma disse, pra esse machismo "Teflon, teflon!" Não absorva os comentários machistas dos haters, blinde-se, conheça e encontre acalento entre mulheres tão fantásticas como você, cultive seu amor próprio, invista seu tempo em você!


E tudo mais!


Tantas atrações que não consegui acompanhar tudo, mas pude sentir a vibração e a alegria de crianças, jovens e adultos no Campeonato de Cosplays ou nas partida de RPG, ao menos consegui dar uma passada na Sala de Games. Lá tive a grata surpresa de encontrar um conhecido do curso técnico de Comunicação Visual que fiz na minha cidade, Carapicuíba, divulgando seu jogo One Beat Min, vencedor do prêmio do BIG Starter no BIG Festival 2018. Engraçado pensar que o lema da nossa Etec era "De Carapicuíba para o mundo" e aí está! Também conferi de pertinho as capas perfeitas da exposição "Rap em Quadrinhos" onde rappers estão em total sintonia com o espírito heroico, vide Racionais por exemplo, que levou o Capão Redondo para o Brasil e para o mundo. Novamente o Capão se destaca e mostra que é o reduto dos nerds da periferia. Reforça de que a periferia só precisa de oportunidade, incentivo, de um evento como esse que abrace sua comunidade, não barre ninguém na porta, alimente os sonhos e a garra e mostre a todos o grande potencial de seu público e o seu potencial de transformação social.

Grafite na parede do prédio Fábrica de Cultura, Exposição "Rap em Quadrinhos", Beco dos Artistas - Artista Nathalya, Ira Croft - Cosplay Hela e Banner Jogo One Beat Min

Foi maravilhoso! E já estou ansiosa pro próximo ano. Parabéns a todos os envolvidos!





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