Como ler textos acadêmicos?
Crédito: Tima Miroshnichenko |
Por Anne Quiangala
Quando ingressamos num curso superior, é bastante comum notarmos que nossos métodos de estudos funcionavam melhor em no contexto escolar com o objetivo de gerenciar diversas disciplinas e passar no vestibular. Naquele contexto, não éramos avaliadas pela autonomia de pensamento, mas sobre a capacidade de retenção de informações e repetição de procedimentos.
Entretanto, na universidade, precisamos lidar com textos complexos e obras inteiras que podem ser bastante desafiadoras (informações externas, vocabulário, sintaxe, conjunto de referências e diálogos com outros autores e obras), e com as quais precisamos dialogar e questionar. Assim, somos confrontadas tanto com nossa ignorância, como com a enxurrada de informações.
Então dai surge uma questão: como ler textos acadêmicos de modo a otimizar nosso tempo, acessar mais camadas de significado e, por fim, identificar conceitos e ideias relevantes e instrumentaliza-las de forma adequada?
Tenha metas bem definidas
Antes de estudar, é preciso ter muito bem delineado qual o texto, livro, quanto tempo disponível e qual a sua intenção. Organize bem suas ferramentas (notas adesivas, marcadores, água, lanche e etc), faça uma lista com as tarefas (qual texto, qual o intervalo das paginas páginas) e lembre-se de usar um worry pad, uma folha ou bloco de rascunho pra despejar as ideias, dúvidas ou tarefas que poderiam distrair, mas que, em vez disso, como registro, ajuda a desanuviar e acessar depois.
Crédito da imagem: Dionatan Moura |
Pomodoro
Usar blocos de concentração ajuda a criar um contexto de atenção plena. A recomendação é de 25 minutos de leitura focada, e uma pausa de 5 minutos. Ao longo do periodo de concentração, recomendo testar a redução de estímulos visuais e auditivos. Durante as pausas, busque levantar, fazer uma postura de ioga ou se alongar de vez enquanto. Com o método Pomodoro você conseguirá mapear seu ritmo de leitura e melhorar o planejamento para as próximas sessões.
Visão geral
Quando começamos a ler textos acadêmicos, precisamos ter em mente que lidamos com dois movimentos: para dentro da obra e para fora dele. O escritor Austin Kleon sugere, por meio de uma metáfora, que livros possuem força centrípeta e centrífuga. Deste modo, existem textos que nos levam a outros textos, autores e questionamentos, ao passo que certos textos nos sugam profundamente pra eles mesmos. Se não estiver ciente disso, quando for estudar, pode perder o foco com pesquisas ou reduzir demais o ritmo da leitura, o que são duas formas prazeirosas, mas pouco produtivas para uma primeira leitura consistente.
Antes de começar, vale a pena procurar conteúdos que dão uma perspectiva mais geral, como um mapa do assunto, podcast ou resenha pra que o seu entendimento do todo e da relação entre as partes não dependa apenas da primeira leitura. Nesse momento, pode ser útil produzir ou buscar por mapas conceituais.
Nesta etapa, você deve identificar as informações gerais do texto: autoria, contexto de publicação, filiação das ideias, o que acrescenta, o que refuta.
Fonte: Biblioteca da ECA/USP |
Leitura focada: marcações e marginália
A leitura, quando é contextualizada, pode ser um momento de profundidade. Podemos nos ater à estrutura, ao modo como tudo se relaciona; pra isso, eu acho relevante escolher cores de marcadores para cada elemento (objetivo, argumento, ideia 1,2 ou 3, referências…) e uma notação de símbolos a serem usados na margem pra identificar rapidamente os tópicos.
Nesta fase, você também pode resumir parágrafo à paragrafo ou escolher pensar frases do texto como respostas para perguntas.
Fonte: GoodNotes |
Fichamento: Método Cornell de anotações
Fichamento é algo bem pessoal, mas eu prefiro usar o Metodo Cornell. Após a leitura concentrada, uso os símbolos na marginalia pra identificar como registrar na folha. Você pode tentar outras formas, analógicas ou digitais, o que funcionar melhor pra produzir e pra recuperar depois quando for escrever um artigo ou planejar uma aula.
O método Cornell de anotações é um sistema concebido na década de 1950 pelo professor de educação, Walter Pauk, da Cornell University. Consiste em um tipo de template em que a página é dividida em duas colunas (a da esquerda deve corresponder a um terço da largura da pagina), uma seção acima com informações sobre o conteúdo, aula o palestra, e uma abaixo para resumir o conteúdo da página. A coluna à esquerda deve ser preenchida com palavras-chave, símbolos ou uma pergunta breve, enquanto a da direita serve para descrever temas ou a definição dos conceitos.
Observação: É possivel usar esse tipo de anotação para revisar o conteúdo, tampando a coluna da direita, o que funciona de modo semelhante a flashcards.
Crédito: Vitaly Kolesnik Fonte: Flickr |
Use a Síntese para revisar o que estudou (mapa mental, sketchnote, resumo)
Embora o fichamento seja importante para a memorização, uma síntese pode otimizar oprocesso de aprendizagem ativa. É mais fácil revisar o conteúdo sintetizado, inclusive para garantir que você realmente sabe o que estudou. Com uma boa síntese, você poderá revisitar as ideias e conceitos de tempos em tempos, e garantir que fixou bem.
Encontre o seu método
Essas etapas são o modo como venho estudado no ensino superior. Nem sempre o texto ou a disciplina exige que sejam levados à risca porque, o estudo depende de planejamento (ementa organizada, com avaliações, bibliografia pre-definida) e um cronograma de leitura equilibrado.
Talvez você não se identifique com essas etapas, mas espero que elas te inspirem a buscar o que funciona pra você dentro do contexto, tempo e recursos disponíveis. Recomendo, entretanto, que experimente testar esse passo a passo por algum tempo, e ir ajustando até encontrar o seu método. Não existe receita mágica que funcione pra todo mundo, é maravilhoso que você encontre ferramentas que se ajustem ao seu estilo de vida. Boa sorte!
REFERÊNCIAS
KLEON, Austin. Books that suck you in and books that spin you out. Disponível em: <www.austinkleon.com/2021/03/29/books-that-suck-you-in-and-books-that-spin-you-out/> Acesso em 21 mai. 23.
MORGAN, Megan; MADDEN, Hannah. Como Fazer Anotações Usando o Método Cornell. Disponível em: <pt.wikihow.com/Fazer-Anotações-Usando-o-Método-Cornell> Acesso em 21 mai. 23.
PAUK, Walter; OWENS, Ross J. Q. How to study in college. Boston: Cengage Learning. 2011. 10 ed.
Comente!