[Burning Bujo #4] Montando a semana no Bullet Journal (passo a passo)
Por Anne Quiangala
O Bullet Journal (também conhecido como diário em tópicos) é um sistema de organização modular que permite centralizar todos os registros, projetos e tarefas no mesmo caderno. Para o criador desse método, Ryder Carroll, usar uma ferramenta digital de organização é tanto uma forma de encontrar tempo pra si, como um tipo de ritual que nos tira da frente das telas e nos desacelera. O modo como se estrutura e organiza o #BuJo é bastante pessoal, e está ligado ao seu gosto estético (embora a sugestão seja a de manter o minimalismo), interesses e estilo de vida.
Embora existam diversos tutoriais que expliquem os elementos que constituem o sistema, é interessante considerar o método de modo mais profundo. Antes de começar, o autor nos sugere que reflitamos a respeito das motivações para adotar um sistema de organização. Então pergunte a si mesma: se organizar pra quê? O que você realmente tem e quer fazer? O que você deveria estar fazendo?
Após responder a essas perguntas, estamos prontas para começar a planejar nossa semana.
Passo 1. Listar as tarefas da semana
Passo 2. Diagramação diária vertical
Embora em sua forma clássica a coleção de registro diário do BuJo seja mais uma lista de afazeres, pra quem deseja implementar novos hábitos ou ter as tarefas cumpridas, uma diagramação que detalhe a hora pode ser bastante útil. Evidentemente, você não precisa ficar lutando contra o relógio; na verdade, a ideia é muito mais a de observar de que maneira você está gastando o seu tempo, compreender quando você tem mais ou menos disposição, e como distribuir as tarefas que você deveria, tem ou quer fazer.
Neste tipo de modelo, é interessante deixar espaço em cima para determinar uma tarefa de destaque, ou seja, uma que você vai escolher a cada dia para se dedicar e não terminar o dia sem executar. Escolha um grande destaque, e, no máximo, mais dois menores. Eu represento o “grande destaque” no topo do dia com uma estrela; se eu consigo completar, circulo a estrela no final do dia.
Na base da página, deixo três linhas que uso para determinar o nível de energia e o nível de concentração de zero a dez. A última eu deixo pra anotar alguma observação, ideia ou detalhe que posso querer desenvolver em um espaço maior.
Passo 3. Bloquear o tempo
Determinar e bloquear na agenda os horários de trabalho e compromissos recorrentes (aula, terapia, atividade física, leitura) é essencial para conseguir visualizar bem a semana. Vale lembrar que o tempo bloqueado demanda uma organização prévia do material, espaço ou condições, pra que você não gaste o tempo e não consiga se dedicar inteiramente. É importante usar o bloqueio de tempo pra ativar o seu “modo flow”, isto é, alinhar a energia e a vontade de executar a tarefa.
Bloquear o tempo é uma excelente maneira de introduzir hábitos na rotina, como a leitura, exercício físico, tempo fora das redes sociais e dedicação a um hobby. Vale lembrar que o bloqueio de tempo também é útil como ferramenta de autocuidado: reserve tempo para você descansar, cuidar da pele, organizar a alimentação, fazer o ritual matinal, desenhar e se dedicar à escrita terapêutica.
No início, pode ser difícil lembrar, então use o celular ou assistente pessoal virtual pra auxiliar com lembretes e ciclos de Pomodoro.
Passo 4. Reflexão
Em O método Bullet Journal, Carroll sugere que reservemos momentos de manhã e à noite para a reflexão diária, bem como uma reflexão ao final de cada mês. Enquanto a reflexão matinal tem em vista a organização do dia, a noturna serve pra desacelerar a mente, e para avaliar o que foi feito e se o que não foi deve ser migrado pra outro dia, ou se perdeu a importância, descartado. No momento de reflexão noturna, é importante revisitar o planejamento, tarefas ou eventos e fazer notas pra ordenar os sentimentos e pensamentos; você pode fazer uma nova coleção na página seguinte para detalhar um evento, registrar uma ideia, impressão ou sentimento também. Não existem fórmulas prontas e universais para a reflexão, então as sugestões de Carroll também partem da ideia de que você vai descobrir o que funciona melhor dentro de sua rotina.
Passo 5. Encontrando seu ritmo
Diferente do Planner ou da agenda tradicional - que tem uma diagramação predeterminada -, o Bullet Journal é construído a partir das necessidades e acompanha o desenvolvimento de quem opta por esse modo de organizar a rotina. Nesse sentido, o BuJo nos leva a considerar em que medida o que estamos fazendo ou mesmo se o formato está fazendo sentido em determinado contexto. Podemos experimentar diagramações, cores e elementos e simplesmente mudar quando encontrarmos modelos melhores ou quando as demandas mudarem. O BuJo é um caderno que reúne as experiências em determinado momento, e podemos sempre consultar, e identificar nossos processos, mudanças e amadurecimento. Neste momento, estou usando essa formatação vertical que prioriza as horas, mas não é um problema retomar um modelo antigo ou buscar por novos modelos. Essa é a grande vantagem de fazer o seu próprio caminho por meio do Método Bullet Journal.
Que tal começar a se organizar hoje?
Referências
Para diagramar a página dupla semanal eu me inspirei no formato sugerido por EZ do canal EZ Book Notes em seu vídeo 7 minimalist weekly layouts for Bullet Journal. O youtuber EZ sugere essa estruturação, que é semelhante ao que podemos identificar na ferramenta digital Google Agenda (que é um recurso adicional que eu uso conectado à minha pulseira inteligente).
Vale bastante a pena ler o livro O Método Bullet Journal, porque além do passo a passo de como se organizar, há uma sessão inteira focada em preparar a mente para esse modo de organização. Ao discutir a questão da intencionalidade, das escolhas e propor que passemos a agir menos em resposta às demandas e mais em direção ao propósito, Carroll nos prepara para compreender que a urgência que nos cerca pode ser reduzida quando tomamos decisões mais acertadas. As reflexões diária, semanal e mensal ajudam a compreender o que estamos priorizando, e identificar pra onde estamos nos dirigindo; desse modo, podemos entender se aquilo faz mesmo sentido ou se partimos pra outros rumos.
A partir do hábito de organização baseado no que faz sentido, e no que é (realmente) necessário, nós passamos a obter o melhor aproveitamento do tempo. Com isso, as estratégias propostas por Jake Knapp e John Zeratsky em Faça tempo podem ser aproveitadas da melhor forma. Não adianta querer ser mais produtiva, se não sabemos o porquê; sem o porquê, ter mais tempo ou nos levará a péssimos hábitos (como as “piscinas infinitas” dos feeds nas redes sociais) ou a trabalhar mais simplesmente para o enriquecimento dos outros.
Com a mentalidade voltada para o autocuidado, bem-estar de si e das pessoas à nossa volta, certamente encontraremos tempo para o que é importante, seja a militância, o pensamento crítico, o lazer e o tempo com as pessoas que amamos. Essa atenção ao autocuidado e ao sentido da vida além da função biológica, que tem igualmente em vista o bem-estar coletivo, é o que a filósofa Aph Ko denomina Capital Vital no livro Aphro-ism. Capital Vital é o entendimento de que a vida inclui atividades que a tornam importante e valiosa. O modo como construimos a Vida demanda um diálogo continuo com o mundo e parte dele se manifesta pela arte, teoria e cultura pop. A vida também é construida em nossas comunidades e lugares seguros, na interação saudável que gera um senso de pertencimento e respeito. Esses lugares são onde podemos investir no projeto de Tornar-se sujeito: desenvolver a própria perspectiva, amar, dar importância à própria vida, emoções, bem-estar mental, físico e psicológico, receber amor.
É nesse sentido, dando atenção adequada para a sua subjetividade e capital vital do seu corpo social, que a preparação do bullet journal faz, cada vez mais, sentido.
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