Como foi a oficina “Escreva como uma Super-Heroína”?

Panorama da oficina

Nesse sábado, 16 de agosto de 2025, demos início à segunda etapa do II Simpósio Pretaenerd Academy, com a oficina de escrita acadêmica “Escreva como uma Super-Heroína”, conduzida por Ellen Alves. A oficineira é doutoranda e mestra pelo PPGCOM da Uerj, além de Bolsista Capes Doutorado, membra do “POPMID: Reflexões sobre Gêneros e Tendências em Produções Midiáticas” e do “LABIM: Laboratório de Estudos do Imaginário”.

Já que Ellen realiza pesquisas sobre representatividade e tem publicações em revistas relevantes em sua área de atuação (cinema), o conhecimento compartilhado na oficina contribuiu bastante para a formação acadêmica da comunidade burning heller, uma vez que uniu teoria e prática com rigor intelectual e bom humor. Segundo a pesquisadora, a sua proposta de oficina partiu da experiência produzindo textos acadêmicos sobre cultura pop, numa perspectiva contra-hegemônica, analisando os filmes, jogos e séries da Marvel e DC Comics.

Um texto acadêmico também é uma produção criativa e que funciona melhor quando gostamos do objeto analisado.

Primeiras impressões da oficina

A oficina síncrona aconteceu de forma online e contou com um público intergeracional, de diferentes regiões do Brasil e de diferentes graus acadêmicos, incluindo pessoas formadas no ensino médio, docentes de diferentes componentes da educação básica e superior, bem como pessoas que são escritoras, artistas e pesquisadoras independentes. Com isso, uma das impressões principais é a possibilidade de, realmente, construir um espaço de ensino-aprendizagem acolhedor e horizontalizado, no qual todo mundo tem o que ensinar e aprender – todo mundo, mesmo!

Ao longo de quatro horas, a oficina Escreva como uma Super-Heroína apresentou metodologias, referências bibliográficas, orientação e formas de se estruturar um resumo e um texto acadêmico completo, a partir de produtos audiovisuais, com algum caráter contra-hegemônico. Para isso, a facilitadora, Ellen Alves, fez uso de uma metodologia expositiva, tendo como ponto de ancoragem a apresentação com slides cuidadosamente confeccionados, para atender aos critérios de acessibilidade. Uma vez que a acessibilidade é um alicerce fo evento, usamos a plataforma de webconferência Zoom, em detrimento de outras. Essa plataforma oferece o recurso de legenda automática com precisão (o que facilita a participação de pessoas surdas e neurodivergentes), além de sua facilidade de acesso.

O foco da oficina foi a confecção de resumos para submissão de trabalhos em eventos e periódicos acadêmicos, mas também tivemos um passo-a-passo de como fazer o artigo completo, repleto de dicas preciosas. Ellen explicou detalhadamente cada um dos elementos essenciais, com exemplos de artigos publicados por ela em periódicos científicos, como “A Rainha de Wakanda: uma análise sociopolítica sobre o percurso de Shuri entre filmes e quadrinhos. A oficineira enfatizou que, reconhecer cada um desses elementos possibilita a qualquer pesquisadore alcançar a autonomia e produzir suas próprias propostas, que podem se tornar artigos completos, revisados a partir de sugestões por pares ou por participantes de eventos. Nesse ponto, ela também trouxe à tona a importância de sermos abertas à críticas e sugestões, “sem levar para o pessoal”, pois “a crítica é ao texto, não à você pessoa que tem gostos específicos e uma vida”.

Outro ponto levantado por participantes, nas redes sociais, é que Ellen foi muito generosa ao compartilhar conhecimento de forma horizontalizada e com atenção especial às perguntas. A doutoranda em história na UFRRJ, Maria Eloah Bernardo, por exemplo, considerou como ponto alto as etapas nas quais oficineira nos ajudou a compreender como fazer uma boa revisão bibliográfica a partir de dicas úteis, como o uso do software Zotero. Além desse recurso, Alves recomendou o uso de ferramentas como Research Habit, Connect Papers e Lead Maps para pesquisas acadêmicas.

Aliás, a conversa sobre ética na escrita acadêmica, com ênfase no problema no uso de inteligência artificial generativa, foi um tópico que gerou um bom debate sobre ética de pesquisa. Em total concordância com o edital do Simpósio, Alves defendeu o uso de ferramentas de inteligência artificial para revisão de literatura sistemática, mas jamais para escrita do texto em si. Nesse sentido, a pesquisadora enfatizou que “uma coisa é usar a inteligência artificial para ajudar na pesquisa, outra bem diferente é usar a IA para escrever por você”.

Afinal, um texto acadêmico demanda criatividade, revisão teórica e diálogo com a teoria que refletem posiconamento e pensamento próprios do sujeito que escreve, enquanto a IA generativa, em grande medida, trabalha recolhendo as informações dispersas pela internet (produzidas por outras pessoas), e se apropria delas.

Como foi participar da a oficina “Escreva como uma Super-Heroína”?

A burning heller raiz, Cris Rosa, que acompanha a Pretaenerd Academy, desde a primeira oficina, em 2020, deixou um depoimento precioso, sobre a atividade: “A oficina toda foi marcante para mim, pois a minha primeira graduação foi bastante falha no sentido de orientação de escrita acadêmia. Uma coisa que gostei bastante, foi a divisão apresentada de referenciais teóricos. Apareceram alguns nomes que eu não conhecia na área de gênero. Já tinha ouvido falar do Preciado, porém ainda não tive oportunidade de ler, e as referências me deram um caminho por onde começar”.

Assim como Cris, outras pessoas demonstraram, em diferentes formatos, o quanto a oficina proporcinou um momento produtivo, em que “não perceberam o tempo passar”. Foi comum participantes afirmarem que ficariam mais horas naquela imersão de conhecimento. Para a professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), Isadora Dias, “a oficina foi muito na medida: abarcou de maneira bastante acolhedora quem está começando e quem já tem alguma experiência na vida acadêmica. Gostei das referências bibliográficas e do modo como Ellen Lima se preocupa em ser entendida, alcançada. Para mim, o zelo com a linguagem objetiva e acessível foi um excelente lembrete/aprendizado“.

Outros participantes afirmaram que as sugestões bibliográficas da oficina são colaborações importantes para as suas pesquisas acadêmicas futuras, em projetos de mestrado e, também, para delinear as apresentações para o Simpósio. Os feedbacks comprovam, para todas nós que fazemos parte da comunidade, a importância da formação, ao longo do evento, e não apenas porque culmina nas apresentações online das mesas, mas porque também nos prepara para outros contextos ao longo da vida.

O sociólogo (UFF) e professor de inglês na Yo Brazil, André Severino, nos presenteou com o vídeo curto no seu perfil, @discursospedestres, compartilhando a reflexão, logo após participar da oficina. Para ele: “as dores e traumas que sentimos durante a nossa passagem pela academia, muitas vezes, são lembretes de que aquele espaço não foi criado para nós. Acabamos de sair da oficina Escreva como uma Super-Heroína, ministrada pela cineasta Ellen Alves Lima e esse foi um dos pontos altos do ano na comunidade burning heller e também é um marco importante na consolidação dos valores que cultivamos na nossa comunidade. Por exemplo: a disponibilidade para partilhar o conhecimento de maneira horizontal e acolhedora”.

Pelo relato de Severino, podemos depreender que a oficina reuniu os valores caros para a comunidade à densidade do conteúdo, sem que isso fosse impeditivo para pessoas em diversos níveis de escolaridade. Ele também ressalta a importância desse espaço para refletir sobre as experiências traumáticas que vivenciamos nos ambientes de ensino, violências que nosisolam e paralisam. O sociólogo também pontua a importância do Simpósio Pretaenerd como um espaço de instrução e prática acadêmica, que nos fortalece do ponto de vista teórico-metodológico, mas que também reforça, de maneira prática, o senso de pertencimento, o fortalecimento da autoestima intelectual e valores como a generosidade, a acessibilidade e a horizontalidade.

Embora a leitura seja uma atividade solitária, Alves explicou que é importante considerar fazer parte de grupos de estudo e de pesquisa, pois colaboração também faz parte da vivência acadêmica.

Organizando o evento

Tendo em vista que o II Simpósio Pretaenerd Academy é um evento realizado num espaço informal de ensino, aberto a pessoas adultas, com diferentes graus de escolaridade e em diferentes momentos da vida acadêmica, nada mais importante do que estabelecer bases comuns a todas as pessoas participantes. Por essa razão, o comitê científico entendeu que iniciar o evento com uma oficina de escrita acadêmica, reunindo o tema do evento (Cultura Pop e Dissidências) com a #Nerdiandade, seria imprescindivel para a acessibilidade ir além do discurso.

Sobre a decisão de ter a oficina como atividade inicial, a idealizadora do Preta, Nerd & Bruning Hell, Anne Quiangala explica: “nós, do comitê científico, como pessoas com experiência docente na educação básica, reconhecemos que, ao longo do ensino médio, poucas pessoas são expostas a programas de Iniciação Científica e, nas aulas de redação, às modalidades de texto acadêmico. Então, com o intuito de tornar mais acessível para pessoas sem formação universitária, decidimos iniciar com uma oficina de escrita acadêmica, mas específica para a nossa comunidade: reunindo #nerdiandade (o nosso modo crítico de consumir cultura pop) e feminismo”.

Por mais contraditório que possa parecer a proposta de reunir pessoas formadas no ensino médio, graduandos, graduados, mestres, doutores e pós-doutores, todo mundo numa oficina introdutória sobre escrita, na prática, foi observável um forte senso de colaboração entre participantes e a certeza de que sempre há o que aprender. Além do mais, prestigiar o trabalho e as contribuições de outras pessoas é um passo importante na jornada de qualquer pessoa apaixonada por pesquisa, seja no ambiente formal (institucional) ou informal de ensino. Um dos objetivos do Simpósio é reforçar issa importância, na prática, em cada uma das etapas. A primeira etapa foi a seleção de trabalhos e, no fim, convidamos cada participante a refletir sobre espírito esportivo, lidar com o luto e senso de comunidade.

Em suma, diversas pessoas que lecionam componentes de língua portuguesa,na educação básica e superior, elogiaram o conteúdo e a forma da oficina de Ellen Alves Lima. Dentre essas pessoas, está a mestra em Letras (PUCRS) e docente na Faculdade Global UNIFGMED, Andressa Lima. Para ela, que está “na academia há algum tempo, fazia horaaaas que não participava de um evento tão bom, completo e proveitoso. Foi extremamente produtivo!“.

Ou seja, para qualquer pessoa interessada em aprimorar seu conhecimento sobre escrita acadêmica feminista e nerd, a oficina proposta por Ellen Alves, propiciou uma experiência rica de ensino-aprendizagem horizontalizado, acolhedor e propositivo.

O que, afinal, significa escrever como uma super-heroína?

Ellen apresentou metodologias para análise de narrativas audiovisuais, focando na importância de identificar o fio condutor em obras com múltiplos personagens. Ela usou como exemplo o filme “Aves de Rapina” e detalhou o papel de cada uma das personagens femininas e as especificidades em termos de raça, performance e função na narrativa. A pesquisadora também compartilhou referências bibliográficas robustas sobre teoria da comunicação, estudos de cultura pop e análises de representatividade, explicando a diferença entre pesquisas de emissão e recepção, e destacando a importância do afeto nos estudos de ciências humanas. Tudo isso, contribuiu para que o público ouvinte pudesse pensar nos seus objetos de análise e fazer as suas próprias elaborações sobre o que significa escrever como uma super-heroína.

Além de referencial teórico, a oficineira demonstrou como aplicar a teoria, sempre atenta às dúvidas e comentários do público ouvinte e propondo saídas para as situações de angústia e dúvida em relação à escrita acadêmica. Então, sem dar uma definição sobre o que é escrever como uma super-heroína, a oficineira apresentou uma série de elementos para que cada pessoa elaborasse sua própria definição.

Para o mestrando Lucas Lopes (PPGCOM-UERJ), “a oficina inteira foi muito rica de todas as formas” e, ele enfantiza que “a estrutura para um artigo completo, a forma como ela apresentou esse passo-a-passo”, juntas, sanaram diversas dúvidas. Já o designer de moda (UnP) e criador de conteúdo Floriano Laudomir pontuou o quanto a oficina o ajudou “a entender melhor como funciona o mundo acadêmico”. O designer também definiu com propriedade que:

Escrever como uma heroína é usar palavras que fazem outros se sentirem fortes, vistos e capazes de grandes feitos

– Floriano Laudomir.

Várias participantes também compartilharam as suas experiências traumáticas na universidade, e, nesse ponto, a oficineira ofereceu uma míriade de conselhos sobre como lidar com orientadores e desenvolver um estilo de escrita mais acessível. Ela enfatizou a importância do diálogo com diferentes pessoas e a escolha das batalhas, reforçando que escrever como uma super-heroína envolve desenvolver habilidades sociais, além da técnica, especialmente, para aquelas de nós que são outsiders/dissidentes.

Ser uma voz dissidente não é fácil, porque essa voz se destaca das demais e acaba sendo atacada primeiro, em qualquer espaço. Entretanto, no ambiente seguro proporcionado no contexto da Pretaenerd Academy, podemos desenvolver as nossas habilidades com o apoio e a generosidade de outras pessoas”, ressalta Tainá Elis (mestra em história pela UFMG, professora da SEDF e membra do comitê científico do Simpósio). É exatamente para celebrar a dissidência como perspectiva de produção de conhecimento que desenhamos o II Simpósio Pretaenerd Academy!

Chegou o seu momento de planejar os próximos textos!

Encerramento

No encerramento, a anfitriã do evento e doutora em literatura pela Universidade de Brasília, Anne Quiangala, destacou o valor da comunidade Pretaenerd como um espaço horizontal de aprendizado, respeito e reciprocidade, onde todos contribuem, independentemente, de sua formação acadêmica e experiência profissional. Quiangala também agradeceu a André Severino e à Tainá Elis pelo apoio, generosidade e contribuição com todos os projetos do Preta, Nerd & Burning Hell.

Segundo Anne Quiangala, essas amizades formam uma liga de pessoas com diferentes super-poderes, postos à serviço da coletividade, portanto, “Não há razão para se comparar, quando seus amigos têm superpoderes que são compartilhados e investidos em seu favor. Dessa forma, também aprendemos sobre reciprocidade e, claro, a reconhecer os nossos próprios super-poderes que podem ser usados para contribuir com outras pessoas”

Por fim, Anne também anunciou um concurso cultural em parceria com a Dark Side Books. Nele, os participantes inscritos na oficina que optassem por participar, poderiam ganhar livros, se vencessem, escrevendo uma frase sobre “o significado de escrever como uma super-heroína”. As regras compartilhadas com as participantes, na ocasião da oficina, foram:

Regras do concurso cultural – II Simpósio Pretaenerd Academy: 

1. Parentes e membros da produção do evento não podem participar.

2. Para participar é obrigatório apresentar CPF, endereço de e-mail e de residência válidos.

3. Cada participante deve ceitar que o seu texto seja publicado nas redes sociais de @pretaenerd, com os devidos créditos!

4. A frase deve atender à proposta, temática e ética da comunidade.

5. O prêmio será concedido aos dois melhores textos conforme decidido pelo comitê do Simpósio.

6. Os dois primeiros lugares receberão, CADA PESSOA, UM exemplar impresso de livro da Editora Darlside Books.

– 1º Lugar: Um exemplar de Vozes Negras (Claudia Tate)

– 2º Lugar: A vida não me assusta (Maya Angelou e Basquiat)

7. Os envios serão feitos após o evento pela editora Darkside Books.

8. Só serão aceitas as frases submetidas ao formulário em 24h (entre 18h de 16 de agosto de 2025 a 17 de agosto de 2025).

9. Observação – Independente do resultado, saiba que temos um CUPOM caveirístico: DARKSIDE25, cujas regras são:

  • 25% off, não cumulativo
  • válido para todo site da DarkSide Books (exceto pré-vendas).
  • Ficará ativo entre os dias 16 de agosto e 27 de setembro.

10. Para participar do concurso, escreva uma frase que sintetize o que significa escrever como uma super-heroína! (Mínimo 8 palavras e máximo 20 palavras).

As frases vitoriosas são:

1º Lugar: “Escrever como uma heroína é considerar cada aspecto na construção do texto, visando contribuir para um mundo menos desigual” (Maria Eloah Bernardo) – ganhou 1 exemplar de Vozes Negras

2º Lugar: “Se fazer compreensível e empática ao mundo e às pessoas, sem abrir mão do que me faz única e mágica.” (Isótica) – ganhou 1 exemplar de A vida não me assusta.

Os próximos passos

Recebemos várias frases criativas, com definições pessoais sobre o que significa escrever como uma super-heroína. Isso mostra o quão criativa e maravilhosa é essa comunidade! Agradecemos imensamente pela confiaça e carinho de cara participante da atividade e do concurso, mas esperamos ver vocês em breve!

A oficina de escrita foi a primeira atividade do II Simpósio Pretaenerd Academy, mas ainda temos dois finais de semana com mesas de discussão ao vivo e online, nos sábados 13 e 20 de setembro, e uma oficina de encerramento, no dia 27 de setembro. Acompanhe a programação via Instragam @pretaenerd e fique por dentro de tudo o que tá rolando no Simpósio!

Oferta dos parceiros:

Lembrando que, ao longo do Simpósio (entre 16 de agosto e 27 de setembro de 2025), TODO mundo pode usar o cupom de 25% de desconto, não cumulativo, na loja virtual da Darkside Books, usando o código DARKSIDE25 e na loja virtual da Boitempo Editorial, o cupom PRETAENERD aplica 20% de desconto, aproveitem!

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