E música de preta é o que?

Kayla Phillips, vocalista da banda Bleed the Pigs. |
O Rock é uma forma de expressão dos descontentamentos pessoais e políticos, da raiva e da agressividade.
“E ter consciência é assumir um constante estado de raiva”.James Baldwin
Um dia me perguntaram o que tinha a ver ser Negra e ouvir o que eu, musicalmente, curto ouvir. Ah, perguntaram pra tentar repreender esse tal de Burning Hell(1): o Heavy Metal, aliás, o Thrash Metal. Ser Negra, tocar guitarra em consonância com gente gritando (2), para aquela perspetiva que me questionou, não combinava. E, realmente, a sensação de incompatibilidade parecia se confirmar, já que as minhas amigas Negras não gostavam de metal, terror, quadrinhos ou jogos violentos. Não havia pares, nem mesmo eu conhecia bandas com mulheres Negras. (Ora, até mesmo bandas com mulheres eram raras. Comemorei muito quando encontrei The Donnas, mas esperava encontrar algo mais revoltado, mais…pesado.)
Na adolescência, rock parecia um descompasso com a identidade racial, pois ainda que as bandas criticassem o racismo, eram homens e eram brancos. Certamente, o mainstream é sempre a superfície do oceano de qualquer coisa. Heavy Metal tradicional (o de todo mundo) é uma genealogia de homens brancos: Deep Purple > Black Sabbath > Led Zeppelin > Iron Mainden > Metallica. Ou isso, ou a geral se compraz com a lisura dos cabelos, com a alvura feminina, com histórias de vikings: Lacrimosa > Amon Amarth > Epica. É aí que entra o Thrash Metal e o Crossover Thrash como alternativa à brancura onipresente. Ambos os estilos se comprometem com questões políticas e passam a ser um nicho onde a possibilidade de identificação pessoas não-brancas. Quando, já adulta, conheci a cena Hardcore, aí explodiu a minha cabeça, não por ser espaço negro (e não é), mas pela amplitude de discussões políticas feministas, antirracistas e outras mais.
Assim sendo, não é óbvio pra geral que o rock de hoje deve muito ao povo preto que criou esse tal de jazz, esse tal de blues, esse tal de…rock. Faz um tempo que perguntaram aquilo. Hoje em dia, conheço algumas, mas a minha resposta foi mostrar a Sister Rosetta Tharpe:
SISTER ROSETTA THARPE
Sister Rosetta foi uma cantora e guitarrista estadunidense de música gospel. Alcançou grande popularidade entre as décadas de 30 e 40, gravou discos e fez turnês oscilando entre o gospel, o jazz e o blues.
A técnica que Tharpe tem no manuseio de guitarra me faz lembrar de uma frase do documentário Uma Jornada pelo Heavy Metal (3) : Foram os negros que criaram a guitarra”. Além disso, alguém percebeu que ela usa uma guitarra SG? Pra você que achou que isso era coisa de Black Sabbath e de AC/DC: errou.
THE NOISETTES
Noisettes é uma banda londrina de indie rock formada em 2003. Liderado pela vocalista/baixista Shingai Shoniwa, o trio tem uma surpreendente proposta: unir a paixão por música de diferentes gêneros (Jazz, Blues, Pop, Eletrônica) aos conceitos de alta costura e tendências da moda. Shingai tem uma presença de palco enérgica, versátil e marcante, penteados e roupas esplêndidas. Há um grande charme nos backing vocals das canções, que dá um ar vintage espontâneo.
Acredito que o escapismo é algo que conecta todos nós. Todo mundo tem sua própria canção e, acredito, estou buscando fazer a minha própria prum plano de fuga. Espero que as pessoas notem que há muito mais.(4)
Shingai Shinowa
Em vez de falar da voz, melhor ouvi-la:
BLEED THE PIGS
Bleed de Pigs é uma banda de metal liderada por Kayla Phillips, formada em 2013. O discurso gritado pela vocalista, Kayla, passa por identidade racial, violência policial e brutalidade.
BIG JOANIE
Acredito que muita gente – tipo eu – conhece Big Joanie do seriado Black Feminist Blogger. Mas quem nunca ouviu falar, bem, é um trio de jovens Negras estadunidenses que se revesam no vocal: Chardine na bateria, Kiera no baixo, e Steph na guitarra. Elas classificam como banda-punk-negra-feminista. Só o que a gente curte aha!
THE SKINS
Quando ouvi essa banda pela primeira vez não dei conta de parar. E olha que o youtube tem uma quantidade limitada de músicas dessa galera. Inspirada no Led Zeppelin e no White Stripes, essa banda do Brooklyn, consagrada pelo Afropunk, mistura o modo clássico de fazer riffs com passagens que remetem a outros gêneros musicais como hip-hop e R&B. Rock clássico e contemporâneo simultaneamente.
SCATHA
Scatha(5) é uma banda carioca de thrash metal composta por garotas em 2005. Julia Pombo, membro da formação original, é guitarrista e backing vocal. As letras passam pelo caos, raiva, política.
Lançaram sua demo Keep Thrashing em 2007 contendo uma grande surpresa: a faixa em português “Movido pela Raiva”. Desde então, foram destaque da revista Roadie Crew e fazem shows pelo Brasil inteiro.
Essas musicistas Negras não são tão visíveis porque estão fora do convencional espaço destinado a nós musicalmente como o funk, o hip-hop, o rap, o samba. Mas como não aceitamos clausura a postagem é pra dizer que música de preta é tudo o que a gente quiser fazer!
Preta, Nerd & Burning Hell
(0) Algumas ideias inspiradas no For Harriet
(3) Metal – uma jornada pelo mundo do heavy metal (documentário dirigido por Sam Dunn, Scott McFadyen e Jessica Joy Wise) 2005. (Netflix)
Esqueci de falar que estou numa vibe total anos 70' FUNK <3 , é só ouvir funkadelic, kool and the gang, betty davis que o coração dispara ;] , https://www.youtube.com/watch?v=mQILEYw66Rg
Maravilhoso POST! =D não é atoa que você é minha eterna futura namorada <3
Sister Rosetta <3, particularmente eu amo/soul jazz, um sambinha, mas me faltava identificação com o rock, haha sempre lembro de você falando dos "cabelos epicos" hahaha, vamo adorar odin, hahahaha, noisetts explodiu minha cabeça pela beleza, black merda explodiu minha cabeça por ser experimental, e cada vez que eu vou pesquisar sobre música eu tento encontrar mais bandas até então secretas pra preencher esse espaço , e a cada descoberta meu coração se enche =] , tem sido uma ótima pesquisa! =D eu achei legal aquele link que te mandei com as principais 100 bandas feitas por mulheres e tinha umas 10 negras hahahahaha, vamos montar uma banda? Eu canto!
Wooooaaahh brigada Kami! fico super feliz de saber que você gostou do post, eterna futura gueel! Eu também adoro blues e samba (embora conheça bem pouco), mas acho que socialmente nos restringe. Bom saber que esse preenchimento não é solitário, porque eu ADORO conhecer bandas/cantoras/artistas Negras com quem me identifico. E…
veeeeeeeeeeei
Bora montar uma banda de rock? @.@